Título: Reino Unido admite falhas na inteligência
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 12/05/2006, O Mundo, p. 31

Comissão de investigação reconhece que dois dos quatro autores dos atentados em Londres eram suspeitos

LONDRES. Embora tenham sido surpreendidas pelos atentados de 7 de julho de 2005, que mataram 52 pessoas e feriram mais de 700 em Londres, autoridades do Reino Unido suspeitavam de atividades de dois dos quatro terroristas suicidas que explodiram bombas em três trens do metrô e num ônibus. Segundo o relatório da Comissão de Assuntos de Inteligência e Segurança do Parlamento (ISC), divulgado ontem ¿ no mesmo dia em que o governo apresentou suas conclusões sobres os ataques ¿ faltaram recursos para investigações mais meticulosas dos serviços de inteligência.

De acordo com o documento, a agência de espionagem MI5 identificara Mohammed Khan, que liderou o ataque a Londres, e seu comparsa Shehzad Tanweer numa viagem que eles fizeram ao Paquistão em 2004, onde teriam recebido treinamento e ¿ diferentemente do que o governo divulgara ¿ feito contato com extremistas ligados à rede al-Qaeda. No entanto, os dois não foram considerados prioridade diante de outras supostas ameaças de atentados no Reino Unido ¿ o MI5 estaria investigando pelo menos 800 suspeitos desde o 11 de Setembro.

Mas ainda que tenha detectado outras falhas da inteligência ¿ como falta de maior infiltração em possíveis células terroristas no Reino Unido e uma maior compreensão da ameaça de radicalização de muçulmanos no país (os quatro autores dos atentados eram britânicos) ¿ o ISC concluiu que nem mesmo mais investimentos teriam evitado os ataques. E o presidente da comissão, o trabalhista Paul Murphy, ressaltou que a redução do nível do alerta contra terrorismo semanas antes dos atentados não foi tão absurda quanto muitos pensaram.

¿ Descobrimos que as autoridades não haviam recebido qualquer informação sobre ataques e, por mais que houvesse chance de ao menos detectar algo fora do normal, se os serviços de inteligência tivessem recebido mais recursos, a atitude de não investigar Khan e Tanweer a fundo foi compreensível ¿ disse Murphy.

Terroristas não teriam orientação direta da al-Qaeda

Políticos e parentes das vítimas do 7 de Julho criticaram tanto o relatório do ISC quanto o parecer do governo e exigiram uma investigação independente sobre os atentados.

¿ Como se pode falar em falta de recursos quando o governo tem gastado bilhões na invasão do Iraque? ¿ perguntou Diana Gorodi, que perdeu uma irmã numa das explosões.

Parentes de vítimas reclamaram da recusa do ministro do Interior, John Reid, a considerar seu pedido e da versão do governo, que admitiu que a participação do país na guerra no Iraque teria influenciado os terroristas. Reid apresentou outros detalhes dos atentados, como o fato de os terroristas terem fabricado explosivos com ingredientes comprados em lojas e seguindo receitas disponíveis na internet. Também chamou atenção o baixo custo da operação: cerca de US$15 mil.

NOS EUA, RELATÓRIO TAMBÉM INDICOU ERRO, Página 32