Título: VARIG TEVE PREJUÍZO DE R$1,5 BILHÃO EM 2005
Autor: Erica Ribeiro e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 13/05/2006, Economia, p. 39

Rombo cresceu 1.622%. BB pode dar crédito a investidor interessado em comprar a empresa

RIO e BRASÍLIA. A Varig fechou 2005 (o ano em que ingressou na nova Lei de Falências) com um prejuízo de R$1,5 bilhão, contra R$87,1 milhões em 2004, um crescimento de 1.622%. A receita líquida da companhia também registrou queda, passando de R$7,476 bilhões em 2004 para em R$6,644 bilhões no ano passado. Os dados foram divulgados ontem pela empresa, que atrasou a entrega do balanço alegando problemas técnicos. Segundo o diretor de Relações com Investidores da Varig, Ricardo Bulara, o mau resultado se deve à valorização do real frente ao dólar, já que 60% da receita da companhia são na moeda americana.

Bulara disse que o impacto também foi causado pela redução da frota e pelos custos para manter aeronaves paradas, que em 2005 corresponderam a R$32 milhões. O aumento do preço do combustível de aviação (QAV) também pesou nos resultados, disse o diretor da Varig, já que, enquanto em 2004 representava 36% dos custos, em 2005 respondeu por 40%. A Varig gastou R$2,1 bilhões com combustível em 2005, contra R$1,9 bilhão em 2004.

O patrimônio líquido da empresa (que engloba outros passivos, além da dívida) ficou negativo em R$7,9 bilhões em 2005, enquanto em 2004 era de R$6,4 bilhões. A dívida da Varig renegociada com credores ficou em R$5,8 bilhões em 2005, sendo R$3,249 bilhões com o Paes, o antigo Refis (a Varig parcelou o débito até julho de 2018); R$194 milhões com a Infraero; R$57 milhões com a BR; R$134 milhões com o Banco do Brasil; R$1,086 bilhão com o Aerus; e R$1,2 bilhão com outros credores. Em 2004, a dívida estava em R$5,683 bilhões.

O resultado da atividade (venda de bilhetes menos o custo das operações de vôo) também sofreu impacto do câmbio e dos custos gerais, passando de R$540 milhões positivo em 2004 para R$98 milhões negativo em 2005.

Uma das exigências para a criação dos fundos de investimentos e participações (FIP), que fazem parte do processo de recuperação judicial da empresa, é a entrega dos balanços. Bulara afirmou que as demonstrações financeiras referentes ao primeiro trimestre deste ano também serão entregues com atraso, mas não prejudicarão a criação dos fundos.

Além do balanço ruim, a Varig não apresentou bons índices de regularidade, pontualidade e eficiência operacional, segundo dados apresentados ontem pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em abril, a Varig teve 69% de regularidade (vôos previstos e realizados sem cancelamento) nos vôos domésticos e 80% nos internacionais. Em janeiro, os percentuais eram de 96% e 90%, respectivamente.

Ontem o Banco do Brasil (BB) acertou com o Ministério da Defesa e com o Judiciário do Rio, responsável pelo processo de recuperação da Varig, que poderá financiar investidores que queiram participar do leilão de venda da empresa e tenham limite de crédito aprovado pela instituição. Também foi aberta a possibilidade de o BB voltar a descontar recebíveis da Varig (receita com venda de bilhetes). Mas, neste caso, os investidores terão que assumir os riscos.

O juiz Luiz Roberto Ayoub, coordenador do processo, que corre na 8ª Vara Empresarial do Rio, e promotores e representantes da Alvarez & Marsal, consultoria responsável pela reestruturação da Varig, fizeram ontem um périplo por Brasília. Além do Ministério da Defesa, eles estiveram na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e na Infraero. Um dos objetivos era apagar o incêndio gerado com a divulgação de um parecer da PGFN sobre os riscos de sucessão de dívidas envolvidos na proposta de venda da Varig. Segundo fontes presentes à reunião, ficou acertado que a Procuradoria não se pronunciará sobre o assunto até o leilão.

A BR Distribuidora informou ontem que recorreu da decisão de Ayoub que a obrigou a oferecer combustível à Varig, sem exigir pagamento à vista. A BR também apresentou agravo de instrumento na Tribunal de Justiça do Rio.