Título: PRESOS QUEREM VISITA ÍNTIMA E TV PARA VER A COPA
Autor: Germano Oliveira
Fonte: O Globo, 15/05/2006, O País, p. 11

Criminosos cobram fim de regime rígido

SÃO PAULO e PRESIDENTE PRUDENTE. Os oito principais chefes do crime organizado que dominam as cadeias paulistas, entre eles Marcos Camacho, o Marcola, foram ouvidos pela Secretaria de Segurança de São Paulo na noite de sexta-feira. Segundo a Associação dos Oficiais da Polícia Militar, eles reivindicaram o direito a visitas íntimas nos presídios de segurança máxima; o fim do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD); que endurece as regras para os presos dentro das penitenciárias; e até que a Secretaria de Assuntos Penitenciários destine 60 aparelhos de televisão para que eles possam assistir aos jogos da Copa do Mundo.

¿ A principal reivindicação dos rebelados é que o governo recue a acabe com o RDD. Esse regime é o mesmo que mantinha o traficante Fernandinho Beira-Mar com regras rigorosas no presídio de Presidente Venceslau e contra o qual ele se insurgiu, entrando até na Justiça para poder voltar para o Rio e acabou obtendo transferência para Brasília. Por esse sistema, os presos não têm visita íntima, só podem tomar sol uma vez por dia e algemados, têm celas individuais, não podem ler jornais, ver TV ou escutarem rádio. Ou seja, eles ficam realmente presos ¿ diz o major da PM Sergio Olimpio Gomes, diretor da associação.

O major espera que o governo não ceda, pois, caso contrário, se perderá o controle nas prisões.

¿ Cadeia no mundo todo é vista como lugar de punição. No Brasil, não. Os presos levam vida de rei, com dinheiro, mulheres e drogas. Foi cedendo para eles em outros momentos que o governo do PSDB de Alckmin levou o quadro à atual situação ¿ diz o major.

O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo informou ontem que entrará na Justiça com uma ação de improbidade administrativa contra o governo paulista por não ter impedido as ações desencadeadas pela facção criminosa no fim de semana, como rebeliões em massa nos presídios e ataques a bases de segurança policiais. Para o sindicato, segundo a entidade, as ações do crime organizado ¿eram previsíveis, conforme anunciou o próprio estado¿.

¿ O governo tenta passar uma imagem de segurança para a sociedade subestimando o crime organizado e criando um reino encantado que não existe ¿ afirma a assessoria da entidade.

A assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado disse ontem que o secretário da pasta, Nagashi Furukawa, só se pronunciará sobre o assunto, inclusive para rebater as críticas do sindicato, após o fim das rebeliões.