Título: MOEDA RECUA 1,32% E FECHA EM R$2,175
Autor: Martha Beck e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 19/05/2006, Economia, p. 25

Preocupações com juros nos EUA mantêm nervosismo no mercado. Bolsa cai 1,26%

O mercado financeiro voltou a ter um dia turbulento, influenciado pelas preocupações com a inflação nos Estados Unidos, o que pode levar a novas altas dos juros americanos. Depois de registrar na quarta-feira a maior alta em três anos (3,23%), o dólar fechou ontem em queda de 1,32%, a R$2,175. A Bolsa de Valores de São Paulo não se recuperou e encerrou em baixa de 1,26%, aos 37.807 pontos. Já o risco-Brasil fechou estável, a 260 pontos centesimais. Nos últimos sete dias, acumula alta de 21,30%.

Desde o último dia 17, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou a taxa básica de juros dos EUA sem descartar novos aumentos, a Bovespa caiu em seis de sete pregões, acumulando perda de 9,5%. A desvalorização ocorreu em quase todas as bolsas do mundo, embora com mais intensidade em mercados emergentes, como Argentina (-12,77%) e México (-7,18%). Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones perdeu 4,42% nos últimos sete dias e o Nasdaq, 6,05%. Na Europa, a Bolsa de Londres acumula queda de 3,90%.

Altas de juros nos EUA tendem a causar redução de investimentos em emergentes, como o Brasil, considerados mais arriscados. Também podem levar à retração nas aplicações em ações. Na sexta e na segunda-feira, o saldo estrangeiro na Bolsa acumulado no mês caiu de R$1,16 bilhão para pouco mais de R$601 milhões.

O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, acredita que os mercados continuarão voláteis por algumas semanas, mas não identifica uma mudança na avaliação dos emergentes e aumento significativo da aversão ao risco. Para ele, a liquidez vai continuar alta. Barros afirma que, diante das pressões inflacionárias nos EUA, o Fed está ¿condenado¿ a aumentar mais uma vez os juros em junho, dos atuais 5% para 5,25%.

¿ Uma outra alta pode ser necessária, mas não imagino nada além de 5,5% ¿ afirmou.

Autoridades do Fed se disseram ontem alarmadas pela surpreendente alta no índice de inflação ao consumidor dos Estados Unidos em abril, divulgada esta semana (o CPI, na sigla em inglês, subiu 0,6% em abril e o núcleo, cálculo que exclui as maiores variações de preço, ficou em 0,3%, bem acima das previsões de 0,2%).

¿ Conter a inflação tem de ser nosso foco principal. As perspectivas de inflação agora parecem estar no limite do aceitável, talvez além disso ¿ disse o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacher.

O presidente do Fed de Saint Louis, William Poole, afirmou que ¿um ambiente de riscos claros de inflação¿ existe, apesar de esperar a contenção da inflação e um crescimento saudável. Mais cedo, porém, o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que o mercado imobiliário está ¿claramente se enfraquecendo¿.