Título: FACÇÃO CRESCEU EM PRISÕES
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O País, p. 8

SÃO PAULO. A principal organização criminosa de São Paulo começou a se formar nos presídios do estado em 1983, no governo Franco Montoro (PSDB), quando grupos que reivindicavam melhores condições nas prisões de São Paulo se organizaram como os ¿Serpentes negras¿. Queriam visitas íntimas, TVs, alimentação melhor e assistência judiciária.

Dez anos depois, após o massacre do Carandiru, oito presos da Casa de Custódia de Taubaté, o Piranhão, criaram a organização, com nome e estatuto. Desde 2000 a facção formou centenas de advogados, às custas de seu dinheiro sujo, para servirem ao crime organizado. O dinheiro arrecadado dos parentes chantageados patrocinou assaltos, seqüestros e tráfico de drogas. Várias fugas foram compradas nos presídios, a R$80 mil cada, em 2000.

A facção é conhecida das autoridades paulistas desde 1997. Em 2001, um dossiê completo sobre a organização, que tinha seis mil filiados, foi desprezado pelo governo de São Paulo. Em 1997, o promotor de Justiça Gabriel Inellas denunciou dois funcionários da Secretaria de Administração Penitenciária por envolvimento com a facção, mas a denúncia foi rejeitada pela Justiça. No recurso do promotor, até o Tribunal de Alçada na época entendeu que a existência do comando era ¿incerta¿.

¿ Naquela época, a organização só se dedicava à extorsão de dinheiro de familiares de presos. Agora, pelo que estou vendo, perdemos o controle da situação¿ disse Inellas.

Outra denúncia sobre a facção foi apresentada em 2000 pelo desembargador aposentado Renato Talli, ex-corregedor dos presídios. Depois que investigou e apresentou a denúncia, ele teve que se demitir do cargo porque a Secretaria da Administração Penitenciária o ignorou.

Talli informou ao secretário Nagashi Furukawa de todo o esquema de funcionamento da facção e suas ações. Furukawa considerou o relatório ¿exagerado e alarmista¿ na época. Procurado na sexta-feira pelo GLOBO, ele disse, por meio de sua assessoria, que a informação não procede. Segundo ele, o desembargador ¿foi exonerado a pedido¿ e não entregou a ele qualquer dossiê.

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, disse que ficou surpreso com o poderio demonstrado pela facção:

¿ O avanço desta organização decorre de falhas no controle da repressão. Se o estado tivesse sido eficiente, isso tudo não estaria acontecendo. Então, penso que o que não foi feito antes precisa ser feito agora¿ disse Pinho, que tem proposto a criação de uma força-tarefa para a investigação da facção, mas ainda não obteve sucesso.