Título: GARCÍA ELOGIA LULA E VOLTA A CRITICAR CHÁVEZ
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O Mundo, p. 34

Candidato à Presidência do Peru recebe apoio de Fujimori e diz que se for eleito não expropriará empresas

BUENOS AIRES. Depois de ter protagonizado um duro bate-boca com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o candidato à Presidência do Peru Alan García, grande favorito para o segundo turno, fez rasgados elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista publicada ontem pelo jornal argentino "Clarín", o candidato do Partido Aprista Peruano, que governou o país entre 1985 e 1990, afirmou que "Lula está impulsionando uma mudança responsável (no Brasil), muito positiva".

Na mesma entrevista, García voltou a criticar o presidente venezuelano. "Chávez representa uma grande ameaça para a união sul-americana, graças ao dinheiro do petróleo. Ele levou o presidente boliviano a cometer graves erros, que espero sejam resolvidos", assegurou o candidato, que no próximo dia 4 disputará o segundo turno com o líder do movimento nacionalista União pelo Peru, o ex-militar Ollanta Humala. García afirmou que, caso seja eleito presidente, seu futuro governo não expropriará empresas: "Renegociaremos os contratos respeitando as leis que existem no Peru."

Em mais um capítulo da tumultuada campanha eleitoral peruana, ontem o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) quase provocou um incidente diplomático entre os governos do Peru e do Chile.

Ex-presidente diz que García evoluiu bastante

Em Santiago, onde aguarda o desfecho de um demorado processo de extradição (Fujimori foi detido em novembro de 2005 e na quinta-feira passada obteve a liberdade condicional), o ex-presidente disse que "García evoluiu bastante" e que não votaria em Humala. As surpreendentes declarações de Fujimori (durante seu governo García foi obrigado a exilar-se na Colômbia e na França, em meio a uma enxurrada de denúncias de corrupção) provocaram a ira da presidente chilena, Michelle Bachelet, que solicitou à Justiça de seu país a adoção de medidas para impedir que o ex-presidente continue interferindo no processo eleitoral.

- As declarações não foram positivas nem para o Peru, que vive momentos eleitorais importantes, nem para o relacionamento entre o Chile e o Peru - argumentou Bachelet. - Por esse motivo, solicitamos ao Supremo Tribunal que sejam adotadas as medidas que o alto tribunal considere necessárias para pôr fim a esta situação.

Advogado de Fujimori diz que ação do Chile é ilegal

Segundo afirmou ao GLOBO o advogado do ex-presidente, César Nakasaki, a aplicação de qualquer medida para limitar a liberdade de expressão de Fujimori "não seria legal".

- Não seria legal, nem necessário. As opiniões do ex-presidente só não podem afetar a vida normal dos chilenos e o processo de extradição. O resto não teria por que interessar neste momento - alegou Nakasaki, por telefone, de Lima.

Ontem, García também recebeu o inesperado apoio do escritor e ex-candidato à Presidência Mario Vargas Llosa. Durante uma entrevista coletiva em Madri, Vargas Llosa afirmou que o candidato aprista seria "um mal menor" para o Peru. O candidato aprista tentou distanciar-se tanto de Vargas Llosa como de Fujimori.

- São opiniões não solicitadas - disse García.