Título: UNIVERSITÁRIOS NA MIRA DA GUERRILHA
Autor: José Meirlles Passos
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O Mundo, p. 34

Projeto Anarkos recruta estudantes nas principais cidades do país para formar milícias

BOGOTÁ. Apesar de um esquema de segurança especial para proteger a capital colombiana da invasão dos guerrilheiros das Farc, eles não só entram e saem da cidade quando querem como também vêm formando milícias urbanas. Elas têm surgido tanto em Bogotá quanto em outras cidades como Cartagena, Neiva e Santander.

Trata-se do Projeto Anarkos das Farc, que consta do recrutamento de estudantes em 12 grandes universidades do país - seis delas em Bogotá - e o seu treinamento em acampamentos no interior. Ali eles aprendem a confeccionar bombas, além de táticas de ocupação de áreas e a execução de atentados.

Os serviços de espionagem do governo têm coletado muitas informações a respeito dessa movimentação, mas têm sido incapazes de agarrar guerrilheiros. Eles sabem que Carlos Antonio Lozada, do estado-maior do Bloco Oriental das Farc, é quem coordena a organização das milícias urbanas. E também que Danilo Nariño é o responsável pela seleção dos candidatos em Bogotá.

Ambos já teriam conseguido arregimentar cerca de mil jovens, em operações que os policiais e militares jamais conseguiram detectar:

- Temos chegado sempre atrasados aos contatos que eles fazem. Ou melhor, quando sabemos desses encontros eles já foram realizados - admitiu ao GLOBO um dos agentes da unidade antiterrorismo da polícia.

Os estudantes seriam abordados em eventos culturais e acadêmicos, e muitas vezes durantes os intervalos das aulas. Os que são aprovados numa entrevista com Nariño, são levados para núcleos das Farc nos departamentos de Caquetá, Meta e Huila para um curso de três meses. Cada célula urbana é composta de três estudantes.

As autoridades sabem, agora, que o recrutamento foi iniciado dois anos atrás. Elas, no entanto, só perceberam esse esquema em janeiro passado depois de dois ataques a torres de energia na zona sul de Bogotá. Testemunhas contaram ter visto jovens universitários colocando os explosivos. Em abril passado veio a confirmação, através da explosão acidental de uma bomba, quando ela estava sendo armada por três universitários no apartamento de um deles. Todos morreram. (José Meirelles Passos)