Título: No Norte Fluminense, petróleo atrai R$ 68,4 bi
Autor: Luciana Rodrigues, Mariza Louven e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 28/05/2006, Economia, p. 37

Investimentos da Petrobras geram empregos e `royalties¿, mas área social não acompanha desempenho

MACAÉ, CAMPOS e RIO. Região mais dinâmica do Estado do Rio, responsável por 83% da produção de petróleo nacional, o Norte Fluminense se prepara, até 2010, para receber R$68,4 bilhões em investimentos da Petrobras, do total de R$86 bilhões previstos para o estado. A cadeia produtiva do petróleo gera ao menos 24 mil empregos diretos e indiretos e a extração rende, anualmente, royalties e participações especiais de quase R$2 bilhões aos nove municípios produtores da Bacia de Campos. Mas os indicadores sociais dessas cidades nem de longe espelham sua pujança econômica.

A região tem vocação histórica para se tornar grande fornecedor de energia ¿ fica em Quissamã a usina de álcool mais antiga do país. Porém, enquanto a disparada no preço do petróleo multiplicou os investimentos em álcool no Brasil (há 89 usinas em construção), o setor sucroalcooleiro do Norte Fluminense demora a decolar.

Especialista: dinheiro não é usado para política social

No momento em que o Rio se prepara para receber grandes projetos industriais, como mostrou a série de reportagens do GLOBO nos últimos domingos, a região é exemplo de que o vigor econômico nem sempre melhora da qualidade de vida da população.

¿ O dinheiro do petróleo não está sendo usado para planejamento urbano, políticas sociais e nem mesmo para diversificação econômica ¿ diz o cientista social José Luis Vianna da Cruz, diretor da UFF no Norte Fluminense.

De olho na oportunidade de tornar o estado um grande produtor de energia, o governo federal já aprovou financiamento de US$80 milhões para uma geradora eólica em Arraial do Cabo, informa o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer. Além de sediar dois centros tecnológicos de energias renováveis, nas universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do Norte Fluminense (Uenf), um investimento de R$ 1,4 milhão, o estado está iniciando um projeto piloto para produção de carvão verde, em Conceição de Macabu.

A Uenf participa de pesquisas para a produção de biodiesel, alternativa que pode aumentar a renda do setor sucroalcooleiro. Sementes como girassol e nabo forrageiro poderiam ser plantadas na rotação das terras destinadas à cana.

A energia limpa também pode vir da co-geração a partir do bagaço de cana. Em Campos, a Coagro negocia uma parceria desse tipo com o grupo canadense LTCC num projeto que renderia créditos de carbono. Criada por uma cooperativa de pequenos produtores, a Coagro arrendou uma usina que estava para fechar. Para isso, teve financiamento de um fundo da prefeitura que usa a receita dos royalties. Hoje, a Coagro fatura R$55 milhões por safra.

¿ Somos 5.100 cooperados e a co-geração de energia aumentaria nosso faturamento em 20% ¿ estima o presidente da Coagro, Frederico Rangel Paes.

As tentativas incipientes de recuperar o setor sucroalcooleiro contrastam com o dinamismo do petróleo. Macaé virou um centro internacional de prestação de serviços offshore. Há seis anos na cidade, a Sampling Planejamento vai oferecer cursos em treinamento em segurança em Angola.

¿ Prestamos consultoria em Angola e agora vamos fazer treinamento. Aqui em Macaé, sofremos concorrência do exterior ¿ diz o presidente da empresa, Rodolfo da Silva Pereira.

No rastro da Petrobras, o grupo alemão Schulz está concluindo uma fábrica de conexões em Campos, com investimento de R$44 milhões. Em 2007, aplicará mais R$32 milhões numa fábrica de tubos e já programou uma terceira fábrica, um investimento de R$60 milhões, diz o vice-presidente para a América do Sul, Marcelo Bueno.

A cadeia produtiva de petróleo também abre espaço para micro e pequenas empresas. Um projeto do Sebrae-RJ com a Petrobras promove a capacitação de fornecedores, que já formam um pólo na Bacia de Campos, segundo Renato Regazzi, gerente de desenvolvimento Industrial do Sebrae-RJ. De 2005 a 2007, o programa dispõe de R$2,4 milhões. Hoje, são mais de 150 empresas capacitadas na Bacia de Campos, informa Regazzi.

¿ Ainda há muito espaço para micro e pequenas empresas no setor de petróleo, sobretudo no que diz respeito à nacionalização de produtos, em itens de alto valor de automação, como softwares e hardwares ¿ afirma.

*Enviada especial

PROBLEMAS SOCIAIS CRESCEM, na página 38