Título: LULA: BANCOS PODEM BAIXAR JURO PARA APOSENTADO
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 27/05/2006, Economia, p. 35

Presidente diz que instituições privadas rejeitam limite para taxas, mas lembra que crédito consignado não tem risco

BRASÍLIA. Ao participar da 1ªConferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que os bancos têm condições de reduzir os juros cobrados dos aposentados e pensionistas pela concessão de crédito consignado. Lula reafirmou o interesse do governo de conseguir uma redução das taxas dos empréstimos com desconto na folha do INSS. Ele lembrou que os ministérios do Trabalho e da Previdência já estão analisando o caso e o percentual a ser reduzido.

Lula reconheceu que a questão está mais bem encaminhada dentro dos bancos públicos. As instituições privadas têm sido contra a fixação de um teto para os juros e apresentarão uma proposta de auto-regulamentação na próxima semana às duas pastas:

- E, podem ficar certos, os bancos podem baixar os juros, e muito, porque a garantia é a folha de pagamento. O risco de prejuízo é zero. Já começou a discussão e quero ver se resolvemos isso prontamente. Pelo menos no caso do Banco do Brasil, dos bancos públicos, vamos ter que trabalhar para que a gente faça uma taxa compatível com o que vocês (os aposentados) vivem.

Alerta sobre empréstimos para terceiros

Lula, no entanto, fez uma crítica indireta à atitude de alguns aposentados de pegar o dinheiro emprestado para dar a terceiros, como os parentes próximos. Ele lembrou que o governo teve o cuidado de não prejudicar o orçamento dos aposentados, ao impedir que os beneficiários do INSS comprometessem mais de 30% dos seus vencimentos com o pagamento mensal do empréstimo.

- Já vieram me dizer: "Presidente, precisa tomar cuidado porque tem velhinho no Brasil tomando dinheiro para emprestar para o neto". Não tem como o presidente dizer que não pode emprestar para o neto. Mas um dinheirinho extra para fazer uma viagem no fim do ano para ver os netos, para ver os filhos, é uma coisa que temos que criar as condições para vocês (aposentados) fazerem - afirmou o presidente.

Alguns idosos concordaram com a cabeça quando Lula citou o empréstimo a terceiros. Lula arrancou risos da platéia quando lembrou uma idéia de sua sogra em relação ao empréstimo.

- Sabe o que a minha sogra dizia para mim? "Compadre, não dá para ter um empréstimo mais barato para a gente pegar um dinheiro, não? Quero guardar". Eu falei: "Você é doida, você vai tomar dinheiro emprestado, pagar juro e guardar?" - disse Lula.

Pelo terceiro dia consecutivo, o presidente afirmou que a economia está sólida, mas inovou ao afirmar que o próprio mercado financeiro vai regular e ajustar o câmbio no patamar em que considera justo para todo mundo.

Lula disse que o Brasil continuará atento, mas que está tranqüilo porque o país não tem mais que temer a repercussão nos mercados da revelação de informações de bastidores de autoridades americanas. A atual turbulência internacional teve origem na divulgação de uma conversa informal (em off, no jargão jornalístico) entre uma jornalista americana e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Ben Bernanke.

- O Brasil não tem que ficar temendo o discurso do presidente do banco central americano. Quer dizer, não é possível que um cidadão fale uma coisa em off e isso crie um pandemônio nos mercados mundiais - criticou Lula.

O presidente voltou a indicar, ainda, que, além de medidas específicas que ajudam os exportadores, o governo não pretende mexer na política de câmbio flutuante:

- Obviamente precisamos sempre ficar atentos. As pessoas reclamam: uns querem o câmbio a R$2,30, outros querem a R$2,50, como se pudesse, num poder de mágica, o presidente do Banco Central ficar dizendo: "Hoje o dólar vai ser assim, amanhã vai ser assim". Não. Na verdade, é o mercado que vai regular e vai se ajustar num patamar em que vai ser o justo para todo mundo.