Título: CPI DOS BINGOS PODE ACABAR SEM RELATÓRIO
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 30/05/2006, O País, p. 9

Governo ameaça com texto paralelo, oposição com prorrogação

BRASÍLIA. Na reta final, a CPI dos Bingos convive com o risco de acabar sem relatório. O documento, que já é preparado sem informações preciosas, como a análise da quebra de sigilo telefônico e bancário até agora não enviadas à comissão, pode tornar-se mera peça de ficção em meio ao intenso tiroteio político. Nos bastidores, o governo ameaça apresentar um relatório paralelo. Caso isso aconteça, a oposição, que tem maioria do Senado, avisou que vai colher as assinaturas para prorrogar a CPI, que nesse caso entraria pelo período de campanha eleitoral.

- Se tentarem desqualificar o relatório, se houver tentativa do governo de passar o rolo compressor, eu simplesmente não voto o relatório e prorrogo a CPI até outubro - afirmou o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB).

- Quero ver trabalhar até outubro. Tudo o que não tiver a ver com os bingos tem que estar fora do relatório - disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), referindo-se às várias linhas de investigações abertas, que deram à comissão o apelido de CPI do Fim do Mundo.

Garibaldi promete concluir texto até quinta-feira

O prazo da CPI se encerra em 24 de junho. O relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), pré-candidato ao governo de seu estado, promete concluir até quinta-feira o relatório final. Ficarão de fora, por exemplo, as informações de 75% dos sigilos bancários quebrados, problema semelhante ao enfrentado pela CPI dos Correios. Garibaldi admite que o relatório terá buracos, mas diz que o trabalho não foi em vão:

- O texto pode ter deficiências, mas não vai comprometer como um todo nosso trabalho.

Mesmo com todas as dificuldades, o relatório da CPI deve citar o presidente Lula e pedir ao Ministério Público o indiciamento de mais de 80 pessoas, entre elas os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil). Resta saber se haverá votação do relatório.

A CPI também teve seu trabalho prejudicado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu mais de 20 decisões contrárias à comissão, suspendendo depoimentos e impedido quebras de sigilo. Na principal, o STF proibiu o acesso aos dados bancários de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, que assumiu ter quitado dívidas do presidente Lula com o PT. A comissão aposta que esses débitos foram pagos com o caixa dois do partido. Esperava, com essa apuração, incluir o presidente na crise política.

- Todos os nossos esforços levam a crer que aí está o ovo de Colombo. Se o sigilo não aparecer, ficará melancólico para o governo - disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).