Título: TUCANO ACUSA GOVERNO LULA DE FAZER 'FARRA FISCAL'
Autor: Maria Lima/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/06/2006, O País, p. 8

Ministro da Fazenda convoca coletiva para reagir a Alckmin e diz que, se isso ocorreu, foi na gestão FH

BRASÍLIA. O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, criticou ontem a política fiscal do governo Lula. Ele acusou o presidente de estar fazendo uma farra fiscal que vai ter consequências em um ou dois anos, o que é um quadro de pouca responsabilidade, disse. Alckmin criticou também as políticas cambial e monetária. Segundo ele, o câmbio não poderia ter chegado onde chegou e tudo tem que girar em torno da necessidade de crescimento da economia.

- Essa farra cambial e fiscal vai ter conseqüências sérias no ano que vem. Os gastos correntes estão aumentando, os investimentos são mínimos, os preços agrícolas podem explodir - disse Alckmin.

As declarações do tucano levaram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a convocar uma entrevista. Mantega respondeu que, se já houve farra cambial, foi no governo Fernando Henrique Cardoso. Indagado se considerava o reajuste salarial dado aos servidores do Executivo esta semana parte da farra fiscal, Alckmin respondeu:

-- Aumento para funcionário, não vejo problema. Mas essa coisa de fazer em véspera de eleição é uma coisa atrasada...

"Lula jogou a toalha numa série de coisas"

Ao afirmar que concorda com a autonomia operacional do Banco Central, mas não considera prioridade dar ao BC autonomia formal, o tucano disse que o problema é a má política fiscal. Por isso, afirmou, é preciso recorrer à política monetária para assegurar a estabilidade.

- O populismo cambial ainda vai ter conseqüências gravíssimas para o país - disse, citando a crise da agricultura.

Alckmin disse que o crescimento do ano passado foi pífio, muito aquém do que o Brasil poderia ter, e que os setores que mais empregam são os que estão com mais dificuldades. Ele relacionou os principais gargalos que estão dificultando o crescimento da economia: carga tributária elevada, taxa de juros, e investimentos em infra-estrutura diminuindo porque as agências reguladoras estão perdendo a credibilidade.

- Ou o Brasil anda depressa, ou seremos os últimos da fila. Lula jogou a toalha numa série de coisas: crescimento, investimento, reformas, educação e ciência - disse Alckmin, informando que o foco de sua campanha será o trabalho:

- Quem quer trabalho, trabalhe; quem quiser produzir, produza.

Mantega chamou as declarações de Alckmin de descabidas e destacou que o superávit primário dos últimos quatro anos é inédito na História do país:

- Não sei se está ocorrendo farra fiscal. Talvez em algum estado, mas aqui na União não há nenhuma farra fiscal, muito menos cambial. Muito pelo contrário. Se somarmos (os últimos) quatro anos de superávit primário, acho que é inédito na História do Brasil.

"Não há farra fiscal. As contas estão sob controle"

O ministro também defendeu o aumento salarial do funcionalismo afirmando que não afeta o equilíbrio das contas públicas:

- Os aumentos anunciados já estão na conta dos gastos com funcionalismo de 2006 e dentro dos 4,25% (do PIB) de superávit. Portanto não há farra fiscal. As contas estão sob controle, os gastos correntes estão sob controle e os programas estão sendo executados.

Mantega disse que populismo cambial ocorreu, de fato, no governo Fernando Henrique:

- Aquilo era populismo cambial. Tanto que, quando soltaram o câmbio em janeiro de 1999, o castelo de cartas desmoronou e descobriu-se uma farra cambial. Hoje, nós temos valorização cambial porque entram dólares no país, porque o Brasil é robusto no comércio exterior. A diferença é radical.

O ministro negou que esteja se envolvendo num debate eleitoral e justificou a reação às declarações de Alckmin afirmando que o pré-candidato criticou diretamente sua área de atuação:

- Eu não posso deixar passar em brancas nuvens uma afirmação que recai sobre nossa responsabilidade.