Título: BB PARA PESSOAS FÍSICAS
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 06/06/2006, Economia, p. 21

Brasileiros poderão comprar 20% das ações que banco venderá a investidores estrangeiros

Opequeno investidor, seja pessoa física ou jurídica, poderá comprar até 20% das ações do Banco do Brasil (BB), que serão colocadas à venda por meio de oferta pública na próxima semana. O restante está reservado para os grandes investidores, como fundos de pensão e estrangeiros. As condições da oferta, que poderá arrecadar cerca de R$2,5 bilhões com a venda de aproximadamente 45 milhões de papéis, foram divulgadas ontem por meio de fato relevante publicado pelo BB.

Entre os dias 12 e 23 deste mês, os pequenos investidores poderão participar da oferta reservando as ações nas agências do próprio BB ou em qualquer corretora. O valor mínimo da reserva será de mil reais por pessoa, com teto de R$300 mil, sendo que o pagamento terá de ser feito em dinheiro. Ou seja, não haverá a possibilidade de usar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), como aconteceu com a venda dos papéis da Petrobras e Companhia Vale do Rio Doce.

No caso de a demanda superar a oferta, as ações serão rateadas entre os interessados, com devolução da diferença do que foi desembolsado, mas haverá uma ordem de preferência. De olho em mais fregueses, o BB determinou que 50% do total reservado aos pequenos investidores (ou 10% da totalidade dos papéis à venda) estão garantidos aos seus empregados e clientes, sem necessidade de tempo mínimo de relacionamento com o banco. Só este ano, as ações ordinárias (ON, que dão direito a voto) do BB subiram 42,58%.

Operação de olho no Novo Mercado

A oferta de ações vem sendo preparada há alguns meses pelo BB, para aumentar a liquidez dos seus papéis e abrir caminho para o banco entrar no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Este segmento exige um maior grau de transparência na gestão das empresas e maior proteção ao acionista minoritário, além de um free float (ações negociadas no mercado) de no mínimo 25% do capital total das companhias. Hoje, o BB tem cerca de 7% de seu capital em negociação e, caso a venda ocorra integralmente, este percentual pode subir para aproximadamente 12,5%.

¿ Para o BB, a oferta é muito interessante, porque traz mais liquidez. É uma tendência de todas as empresas buscarem o Novo Mercado, porque ajuda na administração e na avaliação dos investidores ¿ avaliou Rodrigo Indiani, analista de risco da consultoria Austin Asis.

Pelo projeto original, a idéia era vender até 7,5% do capital do banco agora, mas o percentual foi fechado em apenas 5,5%, porque a parte de 2% do Tesouro ¿ o maior acionista do BB ¿ acabou ficando de fora. De acordo com uma fonte do governo, isso ocorreu porque ¿não deu tempo¿ para preparar a venda desse lote. Assim, a venda será feita nas seguintes proporções: Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB), com 2%; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com outros 2%; e tesouraria do próprio BB, com mais 1,5%.

As regras divulgadas ontem abrem ainda possibilidade de que, no caso de muita procura, os coordenadores da operação ¿- como o BB Investimentos e o Banco Pactual ¿ possam vender as ações do BB que estão em suas carteiras, que somam pouco menos de 1% do capital total. Se isso ocorrer, e caso a venda seja integral, o total de ações do banco no mercado poderá beirar os 13,5%.

Para os grandes investidores institucionais e estrangeiros, que poderão ficar com 80% da oferta e são um dos principais focos do banco, o prazo para a reserva das ações começou ontem e termina no próximo dia 26. Eles terão de desembolsar mais de R$300 mil se quiserem participar da venda das ações, cujo preço final será decidido também no dia 26. Ontem, os papéis do banco fecharam a R$58 na Bovespa, e o governo acredita que, na oferta pública, os valores não fiquem muito distantes desse patamar.

Estrangeiros têm só 3,4% do capital

O BB trabalhou muito nos bastidores para conseguir elevar o teto de participação de estrangeiros em seu capital, passo que foi oficializado na semana passada com decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, os investidores de fora poderão deter 12,5% do total do banco, muito acima dos 5,6% estabelecidos até então. Atualmente, apenas 3,4% do capital estão nas mãos deles.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o BB chegou a preparar uma oferta pública semelhante. Mas esta acabou não indo para frente, sobretudo por causa da falta de interesse dos investidores institucionais, como os fundos de pensão.