Título: PMDB, ATORDOADO COM NOVA REGRA, ADIA SUA CONVENÇÃO
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 08/06/2006, O País, p. 5

Dilema de lançar ou não candidato ainda divide partido

BRASÍLIA. O dilema do PMDB de ter ou não candidato próprio só aumentou com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de limitar ainda mais as coligações partidárias nos estados. Mas o atordoamento com a nova mudança das regras eleitorais levou as duas alas do partido a acatar a proposta de adiar a convenção nacional, que seria realizada no próximo domingo por determinação judicial ¿ que também saiu ontem. O partido continuava dividido na análise do impacto da medida do TSE sobre as alianças que estão sendo negociadas.

O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), deverá se reunir na próxima segunda-feira com os governadores do partido e os pré-candidatos à Presidência para avaliar a situação antes de marcar uma nova data para a convenção.

¿ Criou-se um novo mundo. Não digo que seja admirável, mas é um novo mundo que favorece a candidatura própria ¿ previu Temer.

O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), faz uma aposta diferente:

¿ Estamos todos tontos. Teremos de analisar entre três opções: ter ou não ter candidato próprio e fazer uma coligação nacional com outros partidos sem candidato à Presidência. Continuo achando que não teremos candidato próprio.

¿Na prática, os partidos são regionais¿

Para o deputado Eunício Oliveira (CE), da ala governista do PMDB, a decisão não é ruim para o partido, porque já havia a decisão inicial da verticalização e o partido já trabalhava nessa linha.

¿ A verticalização cria o desejo de partidos nacionais, mas na prática os partidos são regionais. Mas essa é a lei e devemos cumpri-la.

Eunício acredita que a decisão poderá reeditar, no estados, a grande aliança PMDB-PFL, tradicional na maioria dos estados, principalmente no Nordeste. E deverá também, na sua opinião, reduzir o número de candidatos à Presidência.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), preferiu não fazer previsões sobre o futuro do partido. Mas discretamente organizou uma comissão do Senado, na qual se incluíram o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e decidiu cobrar pessoalmente esclarecimentos ao presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello.

O clima de incerteza acabou obrigando a ala governista do PMDB a cancelar um jantar que teriam ontem à noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Granja do Torto. Lula pretendia aproveitar a oportunidade para reiterar a disposição do PT de se coligar com o PMDB no maior número de estados possível.

A situação do PMDB é complicada porque, nos estados, ele tem grandes possibilidades de aliança com os principais partidos que estão disputando a Presidência da República ¿ PT, PSDB e PFL.