Título: 24 horas de suspense
Autor: Erica Ribeiro e Sabrina Valle
Fonte: O Globo, 09/06/2006, Economia, p. 29

Trabalhadores oferecem R$1 bilhão pela Varig e juiz dará resposta hoje

Um consórcio formado pelos trabalhadores da Varig foi o único interessado, dos cinco cadastrados no leilão da Varig ontem, no Rio, a apresentar proposta pela empresa. O TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), representado pela NV Participações, fez uma oferta de R$1,01 bilhão (US$449 milhões) pela Varig Operações (partes doméstica e internacional), quase metade do preço mínimo estipulado, de US$860 milhões. O juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, que acompanha o processo de recuperação judicial da Varig, pediu 24 horas e decide hoje se a proposta é válida. Se vetar a oferta, ele cogita a decretação da falência. No entanto, Ayoub disse estar otimista e pondera que, mesmo que a Lei de Recuperação de Empresas (a nova Lei de Falências, que completa um ano hoje) preveja a quebra, caberá a ele interpretá-la. Ele descartou um novo leilão.

¿ Não há ainda nada definitivo. Vou ter que estudar. Não posso ser leviano em dizer uma coisa da qual ainda não sei ¿ disse Ayoub.

O TGV propôs pagar R$225 milhões em créditos concursais (que fazem parte da recuperação judicial, incluindo os trabalhistas) e extraconcursais (que estão fora da recuperação judicial); R$500 milhões em debêntures da nova empresa e R$285 milhões em dinheiro. Ficaria com os atuais controladores a Varig velha, com a dívida de cerca de R$7,5 bilhões. Para o presidente da Varig, Marcelo Bottini, a proposta contempla as necessidades da Varig.

Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal ¿ responsável pela reestruturação da Varig ¿ esperava uma disputa vinda de investidores como a OceanAir e o fundo Brooksfield. Para Gomes, o resultado pode ter sido manobra da concorrência:

¿ Agora, vamos esperar a decisão do Poder Judiciário. Já sabíamos que para uma TAM ou uma Gol a falência seria o melhor. Mas esperávamos que os outros investidores bidassem a proposta (fizessem uma oferta).

Diretor do TGV diz que dinheiro está garantido

O presidente da OceanAir, Carlos Ebner, disse que não houve tempo suficiente para avaliar a possibilidade de compra. Ele afirmou que, caso o juiz não aprove a oferta da NV, a OceanAir poderá fazer uma proposta.

¿ Já reiteramos várias vezes o interesse da OceanAir na Varig. O ponto chave foi o tempo.

Na abertura do leilão, cinco empresas se cadastraram: TAM, Gol, OceanAir, Brooksfield e a NV, mas não houve proposta pelo lance mínimo, de US$700 milhões pela Varig Regional (parte doméstica) ou US$860 milhões pela Varig Operações. A NV não foi citada entre as empresas que entraram no data-room nos dias que antecederam o leilão. Na segunda rodada do leilão, para ofertas abaixo do lance mínimo, a NV entregou o envelope faltando poucos segundos para terminar o prazo.

Um dos integrantes do TGV, o presidente da Associação de Mecânicos da Varig (Amvar), Oscar Bürgel, afirmou ontem que três investidores estrangeiros participam do consórcio e já sinalizaram que estão com as garantias necessárias para o aporte inicial de US$75 milhões em um prazo de três dias, como determina o edital do leilão. Bürgel afirmou que a NV não está contará com recursos do BNDES, que estava disposto a financiar o comprador da Varig.

¿ Tenho certeza de que esses investidores vão confirmar (o aporte). Mas o dinheiro não está debaixo do colchão. As tratativas com os investidores estão sendo feitas pelo nosso representante financeiro, a consultoria Invest Partners ¿ disse Bürgel

A Invest Partners, segundo fontes, tem a participação de executivos da NV Participações, para quem presta serviços, e também trabalha para a Varig desde dezembro do ano passado.

O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse, ao sair do leilão, que a agência ainda não pensa em plano de contingência, previsto em caso de falência da Varig.

Para o advogado especialista na área de recuperação de empresas Felipe Camara, do escritório Tozzini, Freire, Teixeira, Silva Advogados, o prazo de 24 horas é factível para que o juiz possa entender melhor os termos da proposta apresentada pela Varig e avaliar se o preço é justo:

¿ Possivelmente se o juiz não considerar o preço justo, a falência pode acontecer. Isso só mudaria se um novo investidor fizesse aporte direto na companhia, e não há impedimento legal para isso. No momento, o compasso é de espera para todos, inclusive os credores, que estão de fato financiando a Varig. O juiz precisa avaliar e o proponente, apresentar o dinheiro.

A Varig está há dois meses sem pagar o salário dos funcionários. A BR fornece combustível em troca de recebíveis de cartões de crédito. No dia 13, uma nova audiência será realizada na Justiça americana para decidir se a proteção contra o arresto de aviões por empresas de leasing será mantida ou não.

`FIZEMOS O QUE FOI POSSÍVEL¿, DIZ MINISTRO DA DEFESA, na página 30