Título: Hora do lançamento
Autor: Míriam Leitão
Fonte: O Globo, 14/06/2006, Economia, p. 24

O Banco do Brasil está preparando o lançamento de suas ações no momento errado. É o que dizem alguns analistas. Ontem foi um dia desastroso nas bolsas do mundo inteiro; têm sido assim. A Bovespa já perdeu 22% desde o pico, no dia 9 de maio, e está no negativo no acumulado do ano. No melhor momento, muita coisa boa aconteceu no mercado de ações: 38 lançamentos e aberturas de capital em dois anos e dez casos de pulverização de capital.

Há quatro anos, no final do governo Fernando Henrique, o Banco do Brasil preparou a venda de ações, como agora. Na época, o PT criticou a operação por dois motivos: o mercado estava em queda e era final de governo. Agora, em novo final de um mandato e com o mercado em queda, o governo Lula prepara a venda de um bloco de ações do maior banco do país.

¿Acho inoportuno pela situação do mercado de capitais, que tem desvalorizado ações importantes. Deveríamos permitir que o novo governo estudasse isso¿, disse, na época, Aloizio Mercadante. O ex-ministro José Dirceu também criticou: ¿É inoportuno o lançamento das ações neste momento. O Banco do Brasil e o governo têm o direito de fazê-lo, mas seria adequado esperar o próximo governo¿, disse Dirceu.

O novo governo assumiu, já está buscando a reeleição, a bolsa já subiu fortemente e começa a cair, entrando em nova fase negativa. E é agora que o Banco do Brasil está preparando o lançamento de suas ações. Ao todo, serão vendidos 5,5% das ações ordinárias; uma operação de R$2,4 bilhões.

A favor da operação, afirma-se no mercado, a tendência é de queda de juros, o que favorecerá a valorização das ações. No ano, o Banco do Brasil está com uma alta acumulada de 31,7%; o Itaú está com queda de 4,6% e o Bradesco, queda de 13%. Nos últimos 12 meses, o BB acumula alta de 97%, Itaú de 23% e Bradesco de 49%. Contra a operação diz-se que este é um momento de incerteza e, se a bolsa cair mais um pouco, pode começar uma fase de venda para realização de lucro. O ponto que se considera perigoso é baixar de 32.500 pontos. Ontem estava em 32.900. E baixando.

A grande dúvida que se tem no mercado sobre a natureza do momento atual: é o começo da queda ou é apenas um ajuste? Confira no gráfico abaixo, que circula pela internet, o que pode ser o momento. É uma brincadeira, mas mostra bem o ciclo de euforia e medo que sempre será a tônica do mercado.

Houve uma janela de oportunidade, que ficou aberta por muito tempo. Teme-se agora que ela esteja se fechando. Em 2001, a Bovespa estava em 8.000 pontos; hoje está em 32.900. No mercado, há quem ache que, se chegar a 32.500, vai continuar despencando. No melhor momento, chegou a estar em 42 mil pontos.

A boa notícia é que, na fase da alta, o mercado de capitais fez avanços importantes no Brasil. Desde que a Natura fez sua oferta inicial de ações (IPO), em 26 de maio de 2004, houve 38 casos de abertura de capital ou algum tipo de emissão. Mais do que isso, dez empresas optaram por pulverizar seu capital. Entre elas, gigantes, como Embraer; empresas eficientes, como Perdigão; da nova economia, como a Submarino. Quando as ações são pulverizadas, não existe um dono propriamente dito. O controle passa a ser difuso, com direção profissional. Sinais de modernidade.

O volume de ações negociadas triplicou desde então e o valor de todas as empresas subiu muito. Nos últimos dias, houve uma saída forte dos estrangeiros. Isso é que tem produzido a queda da bolsa. Se as outras bolsas caírem muito, a bolsa brasileira será considerada relativamente cara e também cairá. Momento de incerteza, o escolhido pelo Banco do Brasil para sua operação.

VITÓRIA com gosto de susto ontem em Berlim.