Título: FAVORITISMO DE LULA E NEGOCIAÇÃO DE CARGOS LEVAM PMDB PARA SEU PALANQUE
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 18/06/2006, O País, p. 4
Maioria dos diretórios deve apoiar petista, apesar de conflitos regionais com o PT
BRASÍLIA. O PMDB optou pelo pragmatismo nestas eleições: mesmo com dificuldade de fazer alianças estaduais com o PT, a maioria dos diretórios regionais do partido decidiu apoiar a candidatura pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Deixando em segundo plano os conflitos com o PT em vários estados, a cúpula governista do PMDB leva em conta dois fatores: o favoritismo de Lula nas pesquisas e a negociação de cargos e verbas num eventual segundo mandato. São moedas fortes para convencer liderados a abrirem espaço em seus palanques para Lula.
Embora tenha o apoio do PMDB na maioria dos estados, Lula ainda não conseguiu garantir os palanques mais cobiçados que o partido pode oferecer. Caso de São Paulo, onde o cacique regional Orestes Quércia ainda não decidiu se apoiará o petista ou o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. O apoio do PMDB fluminense também é incerto. O candidato ao governo do estado Sergio Cabral tem sido muito assediado por emissários petistas, apesar das resistências do grupo do ex-governador Anthony Garotinho.
Grupo governista vai tentar isolar oposicionistas
O grupo do PMDB que negocia diretamente com o presidente deve aprovar uma moção para consolidar o apoio majoritário dos diretórios regionais, mesmo quando nos estados a aliança do partido for com o PSDB ou o PFL. O documento, que seria aprovado pela executiva, pode sair ainda esta semana, isolando os oposicionistas da legenda. Essa operação está sendo fechada pelos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá (PMDB-RR), Ney Suassuna (PMDB-PB) e o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).
¿ Vamos fechar o apoio ao presidente Lula na maioria dos estados, mesmo quando temos conflitos regionais com o PT e apoiamos outros partidos. Qualquer candidato a governador deve pensar duas vezes antes de ficar contra Lula. Não há problema nos conflitos regionais com o palanque nacional. Até porque política tem uma lógica final que é a lógica da vitória ¿ justifica Jucá, ele próprio um bom exemplo dos conflitos do PMDB: será candidato ao governo do estado com o apoio do PPS de sua mulher, Teresa Jucá, que será candidata ao Senado. No plano nacional, o PPS faz oposição a Lula.
O mesmo acontece em Alagoas, com Renan Calheiros apoiando a candidatura do senador tucano Teotônio Vilela ao governo. No palanque de Renan ainda vai estar o pedetista Ronaldo Lessa, que disputa o Senado. Ou seja, Renan estará apoiando candidatos de dois partidos de oposição a Lula, mas montará palanque para o petista no estado.
¿ Uma coisa é a aliança regional. E outra, completamente diferente, é a candidatura presidencial ¿ justifica Renan.
Outro exemplo é o do Paraná, onde o governador Roberto Requião, depois de vários conflitos com o PT local, tentará uma aliança com o PSDB. Mas já avisou que apoiará Lula. No Espírito Santo, o governador Paulo Hartung (PMDB) tem o apoio do PSDB e do PT para a sua reeleição. Mas também já explicitou apoio a Lula.
Nas duas ocasiões em que esteve com a cúpula do PMDB, Lula repetiu que seu sonho era ter um vice do partido. Mas, ciente da dificuldade de uma aliança formal, reforçou que precisa do apoio do partido para a governabilidade num eventual segundo mandato.
¿ Estamos negociando uma aliança política e até mesmo um espaço na coordenação de campanha da reeleição, o que já é um princípio de coalizão política ¿ conta o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações.
Até mesmo em estados onde o PMDB é adversário explícito de Lula, a ordem é evitar o confronto para que a disputa nacional não contamine a disputa regional. É o caso de Pernambuco, onde Jarbas Vasconcelos apóia e defende a eleição do tucano Geraldo Alckmin, mas deve priorizar sua campanha ao Senado para não ter que se confrontar com Lula. Pesquisas identificam forte movimento do eleitorado em favor de uma chapa informal Jarbas-Lula.
Há casos ainda mais curiosos. Na Bahia, o deputado Geddel Vieira Lima ¿ ex-líder do PMDB e um dos maiores aliados do ex-presidente Fernando Henrique ¿ resolveu mudar de lado e apoiar a candidatura do ex-ministro petista Jaques Wagner ao Palácio de Ondina. Ele usou sua disputa local com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) para subir no palanque de Lula:
¿ O meu problema foi regional. Tive que me aliar ao PT para derrotar o PFL.
O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), reconhece que o partido vive um momento de dificuldade. Ele mesmo foi um dos defensores da candidatura própria, sepultada semana passada:
¿ Consultei o país inteiro e as questões locais superaram um projeto nacional do partido. Agora o PMDB vive uma situação única: na maior parte dos estados a aliança não será com o PT. Mas no plano nacional há um grupo forte caminhando para Lula.
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