Título: TUCANO E PETISTA DEVEM GASTAR R$105 MILHÕES
Autor: Flávio Freire e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 02/07/2006, O País, p. 18

NO RASTRO DO CAIXA DOIS Mesmo depois do escândalo do valerioduto, previsões milionárias

SÃO PAULO. As denúncias de caixa dois e as novas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não intimidaram os comandos das duas principais campanhas presidenciais. Juntos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e o tucano Geraldo Alckmin estimam gastar R$105 milhões na campanha eleitoral. Por enquanto, os doadores ainda não se apresentaram, mas as projeções são milionárias: R$50 milhões pelo PSDB e R$55 milhões pelo PT. As previsões são semelhantes às de 2002, mas neste ano os candidatos não poderão fazer showmícios nem distribuir brindes, entre outras restrições.

Embora os partidos tenham até quarta-feira para registrar a previsão de gastos, dirigentes petistas acreditam que a campanha de Lula, em dois turnos, segundo a previsão, deverá empatar com os R$56 milhões previstos na campanha de 2002. No PSDB, acredita-se que o valor chegue a R$50 milhões.

Berzoini queria gastar menos, mas Lula fez exigências

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, queria o mínimo possível de publicidade este ano. Chegou a fazer uma experiência com o publicitário Edson Barbosa, da Link, e propagou que o PT não repetiria as pirotecnias e os gastos milionários de Duda Mendonça. Seriam gastos no máximo R$5 milhões com a campanha no rádio e na televisão. Mas o presidente Lula exigiu a contratação de João Santana e a projeção de gastos com publicidade saltou para R$8 milhões. Só a convenção no Minas Tênis Clube, em Brasília, que referendou a candidatura presidencial, custou R$620 mil. Apesar da dívida oficial do PT, estimada em R$45 milhões, mais a do caixa dois, que ultrapassaria R$100 milhões. Com Duda, a conta teria sido de R$15 milhões em 2002.

¿ A própria legislação já impede as pirotecnias e o PT vai seguir a lei. A lei prevê a ausência de outdoors, de showmícios, de brindes ¿ disse Berzoini, referindo-se às novas regras baixadas pelo TSE.

Em ninho tucano, a estimativa de gastos para a campanha de Alckmin é quase 20% inferior ao que fora previsto na reta inicial da campanha de José Serra (PSDB) à Presidência em 2002. Para este ano, o comando do partido espera gastar R$50 milhões nos próximos 120 dias. Quatro anos atrás, a estimativa foi de R$60 milhões e o tucanato chegou à reta final da eleição com despesa em torno de R$34 milhões registrada no TSE ¿ R$6 milhões a mais do que o comitê nacional do PSDB arrecadou ao longo da eleição. A dívida atingiu fornecedores e funcionários que trabalharam na campanha de Serra.

Temendo reeditar o problema de 2002, Alckmin prevê uma campanha modesta, focada basicamente em programas para o horário eleitoral gratuito. Deve ser nessa área, entretanto, que o PSDB investirá mais pesadamente. O publicitário Luiz González, que responderá pela campanha de Alckmin e também de Serra ao governo paulista, deverá cobrar pelo trabalho algo em torno de R$1,5 milhão, segundo interlocutores, mas fontes do setor dizem que a campanha no rádio e na TV custará no mínimo R$5 milhões.

González se desligará da sua produtora, a Lua Branca, e abrirá a Campanhas de 2006, espécie de produtora-mãe que vai agregar outras pequenas que atuarão em diferentes segmentos. Os partidos devem apresentar até o dia 5 de julho a estimativa de gastos de campanha.

Comando tucano já havia começado a passar o chapéu

Diante da eventual resistência dos empresários a doar para os tucanos em razão das pesquisas eleitorais, que apontam Lula à frente, o comando tucano passou o chapéu antes mesmo das primeiras doações regulares. A sede do comitê de campanha foi cedido pelo senador Paulo Octávio (PFL), maior empresário da construção civil do Distrito Federal.

¿ Vamos fazer uma campanha modesta, mas com uma equipe que vai arregaçar as mangas ¿ diz Alckmin, seguindo o raciocínio do presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, de que a campanha tucana será ¿leve, barata e moderna¿.

Na linha de frente do comitê de finanças, os tucanos puseram o jurista Miguel Reale Junior, ministro da Justiça de Fernando Henrique, que já avisou:

¿ Não vou ficar passando o chapéu ¿ diz ele, que terá como missão organizar o fluxo de entrada e saída de recursos.

Enquanto o dinheiro não entra, o PSDB diz que os gastos com viagens de Alckmin pelo Brasil são administrados de duas maneiras: doação de horas de vôo e caronas em jatos particulares, como o de Tasso.