Título: CPI DOS SANGUESSUGAS NOTIFICA 12 DEPUTADOS
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 06/07/2006, O País, p. 13

Parlamentares, entre eles dois integrantes da Mesa Diretora, têm cinco dias para apresentar defesa

BRASÍLIA. O comando da CPI dos Sanguessugas notificou ontem 12 dos 15 deputados que estão respondendo a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento com a máfia acusada de vender ambulâncias, unidades digitais e ônibus escolares superfaturados. A partir de agora, os deputados terão cinco dias úteis para apresentar defesa por escrito à comissão.

Entre os suspeitos estão os deputados João Caldas (PL-AL) e Nilton Capixaba (PTB-RO), dois integrantes da Mesa Diretora da Câmara e que, segundo a CPI, constam como beneficiários de depósitos de até R$50 mil em um dos livros caixa da Planam, empresa de Darci José Vedoin, apontado como um dos chefes dos sanguessugas.

Mesa ignora pedido de afastamento feito por CPI

Na terça-feira, a CPI aprovou um pedido de afastamento dos dois deputados da Mesa. Mas, apesar da gravidade do caso, a ordem foi ignorada. Até o início da noite de ontem os dois permaneciam nos cargos. Capixaba é Segundo Secretário. Caldas chefia a Quarta Secretária.

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), informa que integrantes da Mesa só podem ser afastados por iniciativa própria ou com processo por quebra de decoro no Conselho de Ética. Não há mecanismos legais que forcem a exoneração.

- Nós já sabíamos disso quando aprovamos o afastamento. Mas esperávamos que, a partir daí, eles se sentissem constrangidos e deixassem os cargos - afirmou o presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

Procurados no fim da tarde, João Caldas e Nilton Capixaba não foram localizados.

Na próxima semana, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) deverá propor que a CPI encaminhe ao Conselho de Ética um pedido de abertura de processo de cassação de mandato contra os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Wanderval Santos (PL-SP). Em depoimento na CPI na terça-feira, o procurador da República Mário Lúcio Avelar e o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura apresentaram documentos que reforçam as suspeitas sobre o envolvimento dos dois com o esquema de pagamento de Darci Vedoin. Wanderval e Pedro Henry foram acusados de receber dinheiro do caixa dois do PT, no chamado escândalo do mensalão, mas escaparam da perda do mandato.

O Ministério da Educação divulgou ontem uma nota em resposta às informações dadas por Avelar à CPI, sobre um esquema de fraudes também com verbas destinadas a ônibus escolares. O MEC informou que, dos 87 convênios firmados em 2001 para a compra de ônibus escolares, 57 foram assinados com prefeituras de Mato Grosso. Pelas informações da polícia, a sede da máfia estava em Mato Grosso.

Filho de Vedoin conta o que sabe em troca de benefícios

Por meio desses convênios, firmados a partir de emendas de bancadas, o governo liberou R$2,8 milhões. O MEC informou que os 30 convênios restantes foram assinados com 30 prefeituras do Rio Grande do Sul.

Nas próximas segunda e terça-feira, a CPI deverá interrogar, em Cuiabá, Darci Vedoin, o filho dele, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, e a ex-assessora especial do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino. Luiz Antônio, apontado com um dos encarregados de pagar propinas a parlamentares, quer os benefícios pela delação premiada e decidiu contar tudo o que sabe sobre o esquema ao juiz Jeferson Schnneider, da 2ª Vara da Justiça Federal do Mato Grosso. Ele está sendo interrogado desde segunda-feira.

- Ele está revelando tudo que sabe. Ele quer a redução da pena - disse uma das autoridades que está acompanhando as investigações.