Título: PT e Lula: persistir nos erros
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 08/07/2006, O GLOBO, p. 2

A semana não foi boa para o candidato-presidente Lula. Nem Alckmin nem os adversários marcaram gols ou tiveram atuação impetuosa. O PT e o governo é que brincaram com a sorte e com os altos índices do presidente nas pesquisas, permitindo-se atitudes desgastantes como a escolha de um tesoureiro enrolado e a entrega dos Correios ao PMDB.

Em matéria de desgaste, Lula já tem pela frente o inevitável veto ao impossível reajuste de 16,6% para os aposentados que ganham mais que o salário-mínimo. Uma cilada que a oposição lhe preparou com a ajuda de setores da base governista. Se não bastasse, governo e PT montaram duas outras trampas para o candidato.

Não podia ser mais infeliz a escolha do prefeito de Diadema, José Filippi, para tesoureiro da campanha. Um prefeito, qualquer um, não podia ocupar tal cargo num partido acusado de ter usado as prefeituras para arrecadar irregularmente recursos para suas campanhas. Filippi avisou que fora condenado a pagar multa por ter ajudado a CUT a produzir um evento e que fora objeto de outras denúncias. Perguntaram se ele tinha respostas convincentes e irrefutáveis. Ele disse que sim. É verdade que só depois de sua escolha o Ministério Público resolveu questionar a origem do dinheiro usado para pagar a multa de dez anos atrás, em 1995. Mas quem tem que dar explicações, boas ou não, não pode ser tesoureiro de campanha alguma.

E a semana termina com a entrega da diretoria dos Correios ao PMDB. Sabem todos, sabe a oposição, que não se governa o Brasil sem uma coalizão, um conjunto de partidos que forme a maioria negada pelas urnas, por conta da dispersão dos votos para a Câmara entre tantas legendas. Para isso, é preciso compartilhar o governo, como acontece não apenas no Brasil. Mas com a nomeação de ministros e formuladores, não de diretores de estatais que movimentam bilhões. Os Correios, ademais, simbolizam a descoberta da corrupção no governo Lula. A impressão que fica é a de que não têm a menor preocupação de apagar o tropeço na ética.

E ainda falta, na seqüência dos desgastes de Lula, a decisão sobre o projeto que obriga o pagamento de FGTS para empregados domésticos. Outra armadilha do Congresso que o deixa entre a cruz e a caldeirinha. Se veta, ofende as domésticas. Se sanciona a lei, cutuca a classe média que emprega. O que se está buscando é a solução intermediária, que reduza o desgaste com um e outro segmento. Ambos têm mulheres na ponta, e, entre elas, Lula tem apoio bem menor que entre os homens.

Todos esses episódios mostram que o PT, confiando na popularidade de Lula e nos bons resultados da economia popular ¿ principalmente a melhora da renda e do poder de compra, graças não apenas aos programas sociais ¿ está se descuidando do que devia ser sua obsessão nesta campanha: mostrar que o valerioduto foi um desvio da direção anterior que não mais se repetirá. Se o PT e Lula não apresentarem na campanha uma resposta ao tombo ético, correrão o sério risco de enfrentar um segundo turno com Alckmin.