Título: ABAIXO DO SAL GROSSO, O ÓLEO LEVE
Autor: Ramona Ordonez
Fonte: O Globo, 12/07/2006, Economia, p. 25

Petrobras descobre reserva em nova camada na Bacia de Santos, que beneficiará o Rio

A Petrobras descobriu petróleo leve - de boa qualidade e maior cotação no mercado internacional - em uma nova camada do subsolo marinho. Ao encontrar pela primeira vez o produto abaixo da camada de sal da Bacia de Santos, a estatal pode estar perto de confirmar a existência de importantes jazidas de petróleo e gás natural a uma profundidade de mais de seis mil metros a partir do fundo do mar, em regiões onde até pouco tempo a tecnologia não permitia chegar.

O poço 1-BRSA-369A-RJS (1-RJS-628A) está sendo perfurado em águas ultraprofundas, a 2.140 metros de distância do nível do mar. A Petrobras ainda não tem a estimativa das reservas nem sabe se a extração é viável. Se for, o Estado do Rio será o grande beneficiado com o pagamento dos royalties da produção. Apesar de estar na Bacia de Santos, em linha reta a descoberta fica a 250 quilômetros da costa do Rio e a 280 quilômetros da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc).

Especialistas do setor estimam que esse poço deve ter pouco mais de seis mil metros de profundidade a partir do subsolo. Isso porque os campos descobertos até agora pela Petrobras nas bacias de Campos e de Santos estão a uma profundidade de três mil a quatro mil metros no subsolo, acima de uma camada de sal de dois mil metros de espessura existente nas bacias brasileiras.

Marco histórico na exploração no país

A Petrobras afirmou em nota que a descoberta representa um marco histórico na atividade exploratória e de produção no país. Mas a estatal se mostrou bastante cautelosa. Segundo a Petrobras, os resultados preliminares são muito importantes, por se tratar de uma nova fronteira a profundidades em que nunca se tinha feito uma descoberta. Mas a companhia ressaltou que serão necessários novos investimentos e a continuação da perfuração do poço para se avaliarem o volume e a produtividade do reservatório.

O especialista e professor Hélder Queiroz, do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o anúncio da descoberta é muito promissor, pois comprova a existência de novas jazidas petrolíferas abaixo da camada de sal. Especialistas mais otimistas já chegaram a afirmar que poderá existir uma nova Bacia de Campos abaixo das atuais reservas conhecidas, depois da camada de sal, assim como também em Santos, onde a maior parte das descobertas é de gás natural. As reservas da Bacia de Campos, de cerca de 10 bilhões de barris , representam 80% do total do país.

Queiroz também é cauteloso, e afirma que é preciso primeiro confirmar a existência das reservas. O professor explica que devido à grande profundidade, os custos para se colocar um campo desses em produção são muito elevados. O petróleo se encontra em altas temperaturas e, para ser extraído, necessita de uma tecnologia muito complexa e sofisticada, ainda em desenvolvimento.

- O desafio nesse reservatório é duplo: produzir a 2.140 metros de distância do nível do mar e conseguir extrair o petróleo que está a mais de seis mil metros de distância do subsolo, o que é mais complexo ainda - disse Queiroz.

O especialista destacou, contudo que com as cotações do petróleo elevadas, cada vez mais se viabilizam projetos que exigem investimentos vultosos, como a extração em grandes profundidades. Um técnico da Petrobras lembrou que o centro de pesquisas da companhia, o Cenpes, já está desenvolvendo tecnologia para conseguir produzir em águas profundas de até três mil metros de distância entre o nível do mar e o fundo do mar.

O poço anunciado ontem é o primeiro a ser perfurado em um dos blocos na Bacia de Santos arrematados pela Petrobras no leilão de áreas feito no ano passado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Petrobras é a empresa operadora do bloco, com participação de 65% no consórcio que tem ainda como sócias a britânica BG, com 25%, e a portuguesa Petrogal, com 10%. No plano de negócios para o período de 2007 a 2011, a Petrobras pretende investir US$87,1 bilhões, dos quais US$40,7 bilhões em exploração e produção.

As ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 2,74%, a R$43,79. A alta da cotação do petróleo no mercado internacional gerou uma corrida dos investidores por papéis do setor petrolífero nos EUA, influenciando também os negócios do Brasil. O anúncio da descoberta da Petrobras foi feito após o fechamento dos negócios no Brasil.