Título: Campanha tucana em busca de doações
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 17/07/2006, O País, p. 3

BRASÍLIA. Depois de andar de táxi por São Paulo e enfrentar longas filas de espera por vôos comerciais pelos aeroportos do país, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, organizou seu comitê financeiro e deve começar a receber doações. Pelo menos é essa a expectativa. A estimativa de gastos na campanha presidencial tucana, apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral, é da ordem de R$ 85 milhões, mas os doadores estão arredios. O partido começa a organizar eventos para arrecadar recursos e empresários estão sendo procurados.

A expectativa dos coordenadores da campanha tucana é que o partido consiga vencer a resistência de setores do empresariado em fazer doações oficiais, a despeito dos escândalos de mensalão e caixa dois. Alguns representantes do agronegócio, por exemplo, já teriam sinalizado, nos primeiros contatos, que temem represálias diante da divulgação de suas doações ao candidato de oposição ao governo. Outros teriam avisado que só contribuirão com a campanha de Alckmin depois de registrarem suas doações à campanha pela reeleição de Lula.

Ontem, Alckmin cancelou a agenda de campanha e não fez atividades públicas. Na véspera, ele e o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, escolheram Diadema e Santo André, cidades paulistas administradas pelo PT, para fazer campanha cercados de faixas pregando ética na política.

O CNPJ do comitê financeiro da campanha de Alckmin saiu no dia 11 e a conta bancária que reunirá as doações em favor do candidato foi aberta oficialmente na sexta-feira. Por enquanto, o único evento marcado para arrecadar fundos está marcado para 29 de agosto: um almoço em São Paulo promovido pelo empresário João Dória, com convites custando R$ 1 mil.

Mas Alckmin e os coordenadores de campanha têm tido encontros freqüentes com grupos de empresários, nos quais evita falar de doações. O vereador José Aníbal (PSDB), que vai compor o comitê financeiro da campanha, que ficará sob o comando do jurista Miguel Reali Júnior, diz que Alckmin avisou que a hipótese de receber doações sem registro tem de ser zero.

¿ O Brasil está em transe depois de tudo que aconteceu e não aceitará o abuso do poder econômico. A marca de todas as campanhas de Alckmin sempre foi da austeridade. Mesmo antes da proibição, ele nunca fez showmício ¿ disse José Aníbal.

Há duas semanas, poucos dias antes de registrar a candidatura, Alckmin cedeu às pressões dos aliados e aceitou que o partido alugasse um jatinho para que possa se deslocar com maior flexibilidade. O PSDB fechou contrato com a TAM, mas não revelou o valor do aluguel do avião.

Na próxima semana, será inaugurado o comitê central da campanha de Alckmin, em Brasília. O prédio de quase dois mil metros quadrados não exigirá o desembolso de dinheiro dos tucanos, embora o aluguel estimado seja superior a R$ 10 mil/mês. Trata-se de doação do empresário e senador Paulo Octávio (PFL-DF).

Antes da oficialização da candidatura de Alckmin, as despesas de pré-campanha declaradas pelo PSDB são consideradas modestas: R$ 300 mil. Segundo os comandantes da campanha, os recursos saíram das contas do partido.