Título: Importação de carros aumentou 113% no primeiro semestre do ano
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 23/07/2006, Economia, p. 32

Especialista e governo não vêem risco para o domínio da indústria nacional

No conjunto da importação de bens duráveis, os carros têm papel de destaque. Pelos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), aumentou 113,8% a importação de automóveis de janeiro a junho. Enquanto este ano, entraram no Brasil com emblemas estrangeiros 60.852 veículos, em 2005, na mesma época, foram 28.463.

¿ E a importação tende a aumentar. Com o acordo do Mercosul com o México, a entrada de carros produzidos lá deve crescer ¿ diz Fábio Faria, diretor de Planejamento e Estatística do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Com o dólar mais favorável, a tarifa zero incentiva a entrada desses carros mexicanos. Assim, a participação nas vendas de importados começa, aos poucos, a aumentar. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os importados respondiam por 3,9% em 2004, subiram para 5,1% em 2005 e agora, em 2006, nova alta: 5,7%. Quando se acompanha a evolução mensal, a participação chega a 6,9%. De acordo com a associação, esse avanço é saudável, pois aumenta o fluxo de comércio de veículos.

A maior parte ainda continua vindo da Argentina, mas há carros no Brasil vindos Europa, Japão e Coréia.

Os carros de luxo ¿ que não entram na conta da Anfavea por serem de montadoras que não têm fábrica no Brasil ¿ também devem aumentar a presença nas estradas brasileiras. A expectativa do diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), Luiz Carlos Mello, é de aumento de 12% nas vendas este ano. No primeiro semestre, houve um recuo de 6%, provocado pelo fim da produção de um modelo. Nesse grupo de empresas, um carro não sai por menos de cem mil reais:

¿ A Kia Motors, a maior importadora, deixou de fabricar a Besta. Neste semestre, as vendas vão crescer.

Mas algumas marcas de carros mais luxuosos não têm do que reclamar. Segundo a Abeiva, a importação de Ferraris aumentou 50% de janeiro a junho. No ano passado, no mesmo período, apenas oito entraram pelas aduanas brasileiras. Em 2006, foram 12. Uma delas custou R$1,250 milhão e as restantes foram vendidas por R$1,350 milhão.

Produção nacional de duráveis caiu 0,3% em maio

O Salão do Automóvel em outubro em São Paulo vai impulsionar as vendas, segundo a Abeiva. A Ferrari trará lançamentos, um pouco mais caros. Um carro da marca sairá por R$1,9 milhão.

Mas todo esse movimento de importação não afetará o domínio da indústria nacional nesse segmento de bens duráveis. Segundo o coordenador de indústria do IBGE, o economista Silvio Sales, a indústria é bastante competitiva e não sofrerá os danos já captados pela indústria de calçados e vestuário:

¿ Mas a produção de duráveis vem desacelerando, enquanto a importação avança. Indicadores de tendência mostram esse movimento inverso.

Em maio, último dado disponível de produção industrial, a categoria de duráveis recuou 0,3% frente a abril. Faria, do Ministério do Desenvolvimento, não constatou prejuízos para a indústria brasileira e não crê que isso vá acontecer.