Título: DE 90 DEPUTADOS, 75 DEVEM SER LEVADOS AO CONSELHO DE ÉTICA
Autor: Maria Lima e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 01/08/2006, O País, p. 4

Número inclui tanto casos de provas concretas como apenas testemunhais

BRASÍLIA. O balanço parcial apresentado ontem pela CPI dos Sanguessugas mostra que pelo menos 75 dos 90 parlamentares investigados sob suspeita de terem se envolvido com a máfia das ambulâncias devem ter seus casos encaminhados ao Conselho de Ética. O número é resultado do levantamento feito pela sub-relatoria de sistematização da investigação, que servirá de base para o relatório parcial. O documento seria apresentado amanhã, mas só deve ser concluído daqui a duas semanas.

A conclusão do levantamento é de que a CPI já recebeu documentos que comprometem 54 acusados. Já outros 21 são acusados com base nos depoimentos ouvidos pela Justiça Federal. O último grupo é formado basicamente pelos parlamentares a quem o empresário Luiz Antonio Vedoin disse ter pago propina em dinheiro vivo. A CPI pode ainda quebrar os seus sigilos bancários na tentativa de comprovar os repasses.

¿ Este foi só o primeiro passo da sistematização. Ainda vamos anexar à pasta de cada um as citações colhidas dos grampos feitos pela Policia Federal e as informações dos depoimentos dos empresários Darci Vedoin e Ronildo Medeiros (da Planam). Também estamos ouvindo 25 assessores acusados de participar do esquema ¿ disse o relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO).

Ontem, os integrantes da comissão começaram a analisar os depoimentos à Justiça Federal dos empresários da Planam e de outros cinco acusados. Para complementar o relatório e checar as defesas apresentadas pelos investigados, integrantes da CPI ouvem hoje novamente Luiz Antonio Vedoin na Polícia Federal, em Brasília.

¿ Na verdade já existem provas contra 75 parlamentares, sendo que contra 21 as provas são testemunhais e precisam ser complementadas ¿ disse o vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE).

Responsável pela sistematização, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) dividiu os 90 acusados em grupos pela natureza do beneficio recebido e pelo grau de envolvimento no esquema. No grupo dos 54 (60%) parlamentares contra os quais já existem evidências documentais, 15 receberam depósitos em suas contas correntes ou na de parentes, 25 nas contas de assessores, seis na conta de terceiros. Oito receberam presentes. A contabilidade da Planam, segundo a CPI, mostra 15 depósitos na conta do deputado Cabo Júlio (PMDB-MG) no Banco do Brasil, variando de R$2.868 a R$50 mil.

No grupo dos que há apenas evidências testemunhais estão os 21 (23%) parlamentares que receberam pagamentos em espécie, pessoalmente, ou por intermédio de auxiliares, segundo Vedoin. No terceiro grupo, sem evidências de pagamento ou recebimento, estão 15 parlamentares ( 17%) que não tiveram menção a esquema ou comissão no depoimento de Vedoin.