Título: Senador pelo PMDB, Wellington Salgado foi o único a votar contra
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 11/08/2006, O País, p. 4

BRASÍLIA. O relatório da CPI dos Sanguessugas, que tem 974 páginas e traz um capítulo dedicado a cada parlamentar acusado, foi aprovado pela CPI dos Sanguessugas com apenas um voto contra, do senador Wellington Salgado (pmdb-MG). Escalado para fazer a defesa pública do senador Ney Suassuna, líder do pmdb no Senado e incluído na lista, ele acusou a CPI de condenar por antecedência os suspeitos.

O senador Sibá Machado (PT-AC) se absteve, inconformado com o pedido de cassação de dois colegas de partido, a senadora Serys Slhessarenko (MT) e o deputado João Grandão (MT).

A aprovação do relatório foi muito comemorada por parte da cúpula da comissão, que brigava contra o esvaziamento da lista de pedidos de cassação. Ainda na sessão da CPI, todos discursaram desafiando os políticos que disputam o mandato em busca de negociatas.

¿ Este relatório é um aviso a todos os candidatos que querem vir para o Congresso Nacional esperando encontrar aqui um balcão de negócios. Vai ser uma aposta ruim. Estamos prontos para enfrentá-los ¿ afirmou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI.

¿Banir a anomalia do voto secreto¿, pede Biscaia

O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), afirmou que o trabalho da comissão foi irrepreensível.

¿ Pizza aqui não houve. Agora, está nas mãos dos conselhos e do plenário. O próximo passo é banir a anomalia do voto secreto (nas votações de cassação) para que o Congresso não saia desmoralizado ¿ afirmou ele.

O relatório da CPI é uma compilação das investigações feitas por diversas instituições e os relatos impressionantes de pelo menos sete integrantes da máfia dos sanguessugas que, em troca do benefício da delação premiada, decidiram contar cada detalhe do esquema ao juiz federal de Mato Grosso Jefferson Schneider.

O esquema, a pleno vapor desde 1999, teria provocado um rombo de mais de R$ 110 milhões nos cofres públicos com a majoração dos preços de ambulâncias, outros veículos e equipamentos.

Desse total, cerca de R$ 12 milhões foram negociados em propina aos parlamentares, cuja atuação criminosa funcionou como combustível para as fraudes. Nos documentos apresentados à Justiça e à CPI dos Sanguessugas, principalmente pelo chefe da quadrilha, o empresário Luiz Antônio Vedoin, estão as provas de que deputados e senadores receberam comissões para apresentar emendas ao Orçamento.

Vedoin foi além ao denunciar que os parlamentares não só trabalhavam pela liberação dos recursos como combinavam com os prefeitos a realização de licitações de cartas marcadas, vencidas obrigatoriamente pela Planam e pelas empresas da organização criminosa.

O relatório exibe uma extensa lista com provas contundentes do envolvimento dos parlamentares. Há o caso, por exemplo, do deputado Reginaldo Germano (PP-PA), que recebeu em sua própria conta bancária uma comissão de R$ 15 mil. Outros receberam presentes dos mais variados, de carros de luxo a uma máquina de café. O deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT) ganhou de Luiz Antônio Vedoin passagens para Nova York, usadas pela filha do parlamentar.

¿Crimes contra a administração pública¿

¿Os elementos objetivos inferidos a partir da leitura do apurado e comprovado, tanto nas instâncias policial e judicial como no âmbito deste órgão investigatório, configuram, fundamentalmente, crimes contra a administração pública, sejam eles do tipo penal capitulado como delitos praticados por servidor, sejam eles do tipo definido como crimes de particular contra a coisa pública¿, diz o trecho final do relatório.

COLABOROU Evandro Eboli