Título: ALCKMIN MUDA ESTRATÉGIA: "LULA É DESASTRE NA ÉTICA"
Autor: Gerson Camarotti e Adriana Vasoncelos
Fonte: O Globo, 24/08/2006, O País, p. 9

Tucano tentará desconstruir imagem do presidente mostrando supostos erros do petista na campanha

BRASÍLIA. Pressionado pelos aliados, o comando de campanha do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, busca uma nova estratégia para tentar desconstruir a imagem do presidente Lula. Os tucanos estão produzindo material para responder ao que é apresentado como positivo pelo PT no programa eleitoral do presidente no rádio e na TV. Alckmin também adotou tom mais duro em entrevista ontem em Brasília, quando disse que a corrupção no governo não é fato isolado e que o governo Lula ¿é um desastre do ponto de vista ético¿.

Mas, contrariando o que pensa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ¿ que considera haver condições de ser pedido o impeachment do presidente Lula ¿ Alckmin disse que quer tirar o tucano da Presidência pelas urnas.

¿ Queremos tirar o Lula através da eleição. Entendo que o Brasil é um desastre do ponto de vista ético. A corrupção não é um fato isolado, mensalão é uma coisa que atenta contra a democracia porque é um poder comprando outro ¿ disse o tucano.

Tucano filmará locais e obras citados por Lula

Após a análise detalhada do programa de TV do presidente Lula, uma equipe foi acionada para gravar em obras e locais apresentados pelo petista como ações positivas de governo. O PSDB quer mostrar ao eleitor que muito do que é apresentado não existe ou funciona precariamente.

A equipe de Alckmin vai fazer imagens de obras de duplicação da BR-101 no Nordeste, da operação tapa-buraco em estradas sem condições de tráfego, e dos locais onde seriam a refinaria de Pernambuco e a siderurgia no Ceará, ainda vazios. O PSDB vai dizer que isso é apenas publicidade e que nada saiu do papel.

Alckmin disse que Lula vive num mundo virtual e que exagera na propaganda:

¿ O que existe no governo é propaganda. A máquina publicitária é muito grande e descolada da realidade.

Ele atacou a decisão de Lula de antecipar para setembro o pagamento do 13º salário dos aposentados e pensionistas do INSS, afirmando que é uma medida eleitoreira:

¿ Antecipar o 13º é muito bom. No governo de São Paulo pagamos há oito anos metade do 13º no aniversário do funcionário. O errado é essa política atrasada, é fazer as coisas em razão da eleição. De quanto foi o reajuste de salário-mínimo este ano? Foi de 16,6%. De quando foi no primeiro ano de Lula? De 1%. Se amanhã não tiver eleição, volta tudo para 1%. Essas medidas só têm uma lógica: o poder.

Aliados entendem que Alckmin vai começar a mudar o tom a partir de sua dificuldade de subir nas pesquisas. Ele esforçou-se para passar otimismo e afirmou que estará no segundo turno. Disse que tem percebido nas ruas uma mudança de percepção do eleitor e mostrou-se seguro de que estará no segundo turno:

¿ Pode escrever aí, hoje, dia 23 de agosto: eu vou estar no segundo turno. Crescemos um pouquinho e o adversário cresceu um pouquinho. A diferença entre a soma dos candidatos e o adversário é de dez pontos. É só virar cinco pontos que temos segundo turno. Médico tem sensibilidade, percebo na rua essa mudança em três programas de TV. Vamos para o segundo turno. E no segundo turno Lula não tem como fugir do contraditório.

O tucano continua com dificuldades em estados importantes como no Rio. O jantar com o prefeito do Rio, Cesar Maia, na terça-feira à noite, não conseguiu solucionar um dos principais problemas da campanha no estado: garantir o apoio de aliados do senador Sérgio Cabral (PMDB), candidato a governador, sem criar atritos com o PFL local.

Alckmin, segundo interlocutores, sequer teria tido coragem de abordar o assunto com Cesar. Ponderou apenas que seus dois palanques no estado ¿ o da candidata do PPS, Denise Frossard, e o do PSDB, deputado Eduardo Paes ¿ não estariam lhe dando o retorno esperado e, assim, não poderia recusar o apoio de alas estratégicas do PMDB.

¿ É um grande equívoco. Nas pesquisas com voto espontâneo, Alckmin tem mais voto sozinho do que Denise e Eduardo juntos. Sem uma ação firme do candidato, o problema no estado continua sem solução e trazendo prejuízos para a campanha ¿ lamentava um estrategista da campanha de Alckmin que defende a aproximação com Cabral.

Assessores de Cabral garantem que ele não pretende rever sua decisão de se manter neutro em relação à eleição presidencial. Favorito na disputa estadual, Cabral estaria sendo assediado não só por aliados de Alckmin, como por emissários de Lula.