Título: UM BALDE DE ÁGUA FRIA NO PIB DO 2º TRIMESTRE
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 30/08/2006, Economia, p. 31

Amanhã, IBGE deve divulgar crescimento menor no 2º trimestre, mas governo ainda aposta em 4% para o ano

BRASÍLIA. O governo já começou a preparar o terreno para o balde de água fria que o IBGE vai jogar esta semana nas previsões de crescimento econômico para 2006, ao divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas geradas pelo país) no segundo trimestre. O resultado sai um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, admitiu ontem o que analistas de mercado já vêm afirmando: houve desaceleração da economia em relação ao primeiro trimestre deste ano.

Mesmo assim, ele ressaltou que a atividade vai ser retomada no segundo semestre e defendeu a previsão da equipe econômica de que o crescimento do PIB este ano chegará a, pelo menos, 4%.

- Acho que essas previsões (do mercado, de forte desaceleração) todas são muito improvisadas, até meio no chute. O IBGE não divulga isso antes. Só vai divulgar na quinta-feira (amanhã). Mas nossa avaliação é que no segundo trimestre nós tenhamos um desempenho menor do que no primeiro. Mas também no terceiro e no quarto trimestres normalmente a economia se acelera. Portanto, a nossa previsão continua a mesma para o ano, que é um desempenho de 4% a 4,5% - disse o ministro.

Na avaliação de integrantes da equipe econômica, mesmo que os números no fim do ano não cheguem a este patamar isso não quer dizer que o país esteja andando em marcha lenta. Eles lembram que as importações têm subido fortemente este ano, e que boa parte delas referem-se a bens de capitais e insumos (bens intermediários), refletindo que o setor produtivo está investindo. Além disso, as compras externas não geram riquezas para o país e, por mais que possam refletir dinamismo, não ajudam o PIB a crescer.

Fiesp tem projeção de expansão de 3,5% para o PIB

Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse ontem que a entidade aposta num crescimento de 3,5% para 2006. Ao sair de um encontro em Brasília com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, Skaf lembrou que não está havendo geração de empregos na indústria nos últimos 60 dias e que a previsão da Fiesp para a expansão do PIB este ano deve ser atingida com esforço.

- A nossa previsão para este ano é, com muito esforço, atingir 3,5%. Isso é o que nós temos dito e são as nossas previsões - disse o presidente da Fiesp.

Ao ser perguntado se acha que o governo está sendo muito otimista em esperar um crescimento de 4,5% do PIB, Skaf evitou polemizar:

- Eu estou dizendo a previsão que nós temos. Agora você tire as suas conclusões.

A avaliação mais conservadora para a atividade econômica este ano também está refletida na pesquisa semanal Focus, feita pelo Banco Central com as principais instituições financeiras. Segundo o boletim, o mercado financeiro espera um crescimento de 3,5% para o PIB este ano, menos do que o da semana anterior e em queda há um mês. As previsões também estão menos otimistas para 2007, com os especialistas revisando as estimativas para baixo pela primeira vez em quase 12 meses. O mercado espera agora um crescimento de 3,5% do PIB para 2006 e não mais de 3,7%.