Título: A costura do PMDB
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/09/2006, O Globo, p. 2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao percorrer os estados, na reta final da campanha, tem conversado com líderes do PMDB. Seu objetivo é construir uma aliança com o conjunto do PMDB que lhe garanta o apoio da maioria do partido. Para que isso seja possível, Lula está sendo aconselhado a fazer um acordo institucional, ao invés de negociar separadamente com alas do partido.

No primeiro mandato, o governo Lula cometeu dois erros com o PMDB. O primeiro foi não colocar o partido no Ministério, depois de ter negociado a sua presença na primeira equipe. O segundo foi ter privilegiado a interlocução com setores do partido, tendo como figura central dessa articulação o senador José Sarney (AP). Essa postura empurrou para a oposição a ala do partido que deu apoio ao governo Fernando Henrique. Para não repetir o erro, o presidente Lula acertou que vai dialogar com todos e não apenas com os que o apóiam.

Depois de ver ruir a base parlamentar, baseada em partidos médios, o presidente emite sinais de que aprendeu com a crise política. Mesmo que possa lhe causar algum desgaste, o presidente fez questão, no último fim de semana, de ser solidário com o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), envolvido no escândalo dos sanguessugas, e de prestigiar o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), réu em processo por desvio de recursos do Banpará. Trata-se de uma diferença de atitude significativa, considerando-se que em 1989 Lula recusou, na disputa do segundo turno contra o ex-presidente Fernando Collor, o apoio do deputado Ulysses Guimarães.

No sábado último, em Salvador, Lula queixou-se de que durante dois anos a oposição infernizou sua vida. Para que isso não ocorra no segundo mandato, sobretudo quando parte da oposição diz que vai continuar tentando o impeachment, o apoio do PMDB é fundamental. A formação de um governo de coalizão é uma imposição, dizem auxiliares próximos do presidente, pois sem isso os governistas teriam dificuldades para manter as presidências da Câmara e do Senado. As pesquisas de intenção de voto nos estados mostram que o presidente Lula poderá, no segundo mandato, ter maioria no Senado, ao contrário do que ocorreu nos últimos três anos e nove meses. Mas para isso dependerá de um entendimento com o PMDB. Sobretudo depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fechou as portas para qualquer aproximação entre tucanos e petistas.