Título: CHEFE DO FMI PROMETE CONSIDERAR OS PEDIDOS DE MANTEGA E MINISTRO INDIANO
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 21/09/2006, Economia, p. 33

Rato agradece as sugestões dos emergentes sobre reforma da instituição

CINGAPURA. O barulho feito pelo grupo de 23 países liderados por Brasil, Índia, Argentina e Egito para que as nações emergentes tenham mais voz nos processos de votação e decisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) acabou rendendo frutos. Ou melhor, promessas. No discurso de encerramento do encontro anual de FMI e Banco Mundial (Bird), ontem, o diretor-geral do Fundo, Rodrigo de Rato, agradeceu ao ministro das Finanças da Índia, Palaniappan Chidambaram, e - de improviso - ao ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, pelas sugestões de mudanças mais profundas que as inicialmente acertadas pelos 184 países-membros.

Rato prometeu que os pedidos serão levados em consideração na reforma do Fundo, que já começou com a aprovação, sexta-feira, da resolução que aumenta o poder de voto de China, Coréia do Sul, México e Turquia. Nos próximos dois anos, a reforma deverá ser ainda mais ampla.

Mas a discordância começa aí. As nações emergentes querem que as ricas abram mão de seus votos no FMI em nome das mais pobres, enquanto a proposta atual tira votos de países ricos e emergentes, da mesma forma, para dar mais poder a outros emergentes.

- Gostaria de agradecer àqueles, como o delegado Chidambaram, da Índia, e o delegado do Brasil, Guido Mantega, que prometeram trabalhar conosco num segundo estágio de mudanças - disse Rato. - Entendo muito bem que a votação desta semana não termina nosso trabalho sobre as cotas, mas começa um processo que vai continuar no próximo ano. E eu reitero meu compromisso de consultar todos os membros de modo que a reforma da voz e das cotas (dos países) nesta segunda etapa seja satisfatória.

Antes de voltar para o Brasil, Mantega disse que os emergentes se opuseram à proposta "para chamar a atenção para a falta de legitimidade da reforma da maneira como está". A diretoria do FMI quer levar em consideração o Produto Interno Bruto (PIB) dos países (29% de peso na formação da cota) e sua abertura ao exterior (50%).

Os países dissidentes querem que sejam considerados o PIB medido pelo conceito de Paridade do Poder de Compra (PPC) - metodologia que anula a variação cambial e permite comparar o poder aquisitivo de diferentes nações - e o nível de exposição a riscos externos. Quanto maior a defesa dos governos contra turbulências (como superávits primários, saldos positivos na balança comercial e nível de reservas), maior seria a cota.

Pelo formato atual, com a elevação no peso dos quatro países, o Brasil viu sua cota cair de 1,42 para 1,40.

As reformas macroeconômicas e a elevação nos preços das matérias-primas, que ajudaram a equilibrar as contas dos países emergentes nos últimos anos, deram uma inédita força a essas nações nas discussões sobre o papel de instituições multilaterais de crédito, como FMI e Bird - este comandado pelo americano Paul Wolfowitz.

Em praticamente todos os projetos elaborados pelo Fundo e pelo Bird - como as novas cotas e o combate à corrupção como pré-requisito para empréstimos no banco - os países ricos sofreram forte pressão dos emergentes. Os emergentes estão fortalecidos, numa confortável posição de quem pouco ou nada deve ao Fundo, e não são mais as economias desestruturadas pela crise cambial de dez anos atrás.

- Essas organizações precisam parar de mandar técnicos para Washington buscar soluções sempre que os países precisam de ajuda - disse a ministra da Fazenda da Indonésia, Sri Mulyani Indrawati.

- Organismos como o FMI e o Bird precisam ganhar mais legitimidade - afirmou Mantega.