Título: Na TV, Lula faz crítica indireta ao Ministério Público ao falar de dossiê
Autor: Cristiane Jungblut/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 28/09/2006, O País, p. 4

'Tem alguma jogada política nesse negócio aí', diz presidente sobre pedido de prisão

BRASÍLIA. Em entrevista ao "Jornal da Record", ontem à noite na TV Record, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas indiretas a setores do Ministério Público ao se referir à investigação do escândalo da compra pelo PT de dossiê contra tucanos. Ele disse que há precipitação de fatos ao criticar o pedido de prisão, pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso, de seis petistas envolvidos no episódio. Sem citar o nome do procurador Mário Lúcio Avelar, autor do pedido, Lula disse que a pessoa que pediu as prisões sabe que elas não podem ocorrer em período eleitoral. E defendeu petistas envolvidos no caso.

Ao ser perguntado sobre as denúncias de corrupção no seu governo, Lula partiu para o ataque. Disse que elas são antigas e remetem ao governo passado, citando o tucano Barjas Negri como envolvido na máfia dos sanguessugas. Lula disse que seu governo está "tirando a sujeira de debaixo do tapete" e classificou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como "uma decepção".

- Às vezes me pergunto se o estrago será para o candidato Lula ou para quem está pedindo as prisões dessas pessoas. A impressão que tenho é que há precipitação dos fatos e que há jogada política nesse pedaço aí. De qualquer forma, a pessoa que pediu a prisão sabe que durante esses dias de eleição as pessoas não podem ser presas. Então, como leitor, vendo a imprensa, fico pensando: tem alguma jogada política nesse negócio aí - disse, na referência indireta ao procurador Avelar.

Ao atacar o PSDB, Lula disse:

- O governo fingia que investigava e não investigava. Estamos tirando todo o lixo de debaixo do tapete (...) Vamos apurar, doa a quem doer: doa às pessoas que trabalham no governo, de fora do governo, as pessoas do PT, que não são do PT. Se você quiser moralizar esse país, não podemos jogar lixo para debaixo do tapete. Não posso admitir que em época de campanha você fique jogando fumaça onde sequer tem fogo.

Momentos antes de criticar o pedido de prisão, Lula dissera que não estava pressionando a Polícia Federal e que a PF, o Poder Judiciário e o próprio Ministério Público têm um tempo de cumprir a investigação:

- Não quero que nenhum inocente seja culpado e que nenhum culpado seja inocentado. No Brasil, lamentavelmente é assim: as pessoas não querem a verdade, querem é criar caso.

"As pessoas vieram trabalhar comigo pelo seu passado"

Perguntado sobre como reage ao fato de pessoas próximas a ele, como o ex-assessor Freud Godoy, estarem sendo investigadas, Lula respondeu:

- Essas pessoas que vieram trabalhar comigo, vieram trabalhar pelo seu passado. Eram pessoas que têm história nesse país, junto ao movimento sindical, junto ao movimento social. Se ao entrarem no governo essas pessoas cometeram um erro, pagarão por esse erro.

Sobre o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini:

- Foi um extraordinário presidente do Sindicato dos Bancários, um extraordinário deputado, fez a reforma da Previdência. Que cometeu um erro agora e pagará pelo erro cometido.

Citou o ex-ministro tucano Barjas Negri (Saúde), mencionado pelo chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin, ao sugerir que os tucanos são protegidos no episódio:

- A essência é que o Barjas Negri, que hoje é prefeito de Piracicaba, que era secretário-executivo e assumiu o ministério (da Saúde), está envolvido nisso. E, quando as pessoas falam o nome dele, não falam Barjas Negri do PSDB. Agora, quando tem alguém do PT, falam do PT.

Fidel, para Lula, 'é o único mito vivo hoje'

'Para mim, uma decepção', diz ele sobre FH

BRASÍLIA. No final da entrevista que concedeu ontem à TV Record, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi perguntado sobre sua opinião em relação a várias personalidades. Em resposta, o presidente atacou tanto seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, seu principal adversário nesta corrida eleitoral.

Na véspera, Geraldo Alckmin dissera em entrevista à TV Record que o presidente da Bolívia, Evo Morales, "manda em Lula".

- O que o senhor acha dessa afirmação? - perguntaram os entrevistadores a Lula:

- Fico com pena que um homem que queira ser candidato a presidente da República diga uma sandice dessas. Porque, na verdade, o que eles queriam é que, no caso da Bolívia, o governo fizesse uma bravata, que eu gritasse, que eu xingasse, que eu colocasse o Exército na fronteira da Bolívia (...) Passou o tempo em que ia para porta de fábrica xingar todo mundo. Agora prefiro uma boa conversa, porque o resultado é muito mais produtivo - disse o presidente Lula.

- Fernando Henrique? - perguntaram os jornalistas.

- Para mim, uma decepção - respondeu o presidente.

- Sarney?

- É o único ex-presidente que sabe se comportar como um ex-presidente.

- Senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)?

- Sem comentários.

- Fidel Castro?

- É o único mito vivo hoje da política mundial.