Título: AÉCIO UNE MINAS E DEVE SER CAMPEÃO DE VOTOS
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 31

Tucano está disparado na frente e PT, prejudicado pelas denúncias de corrupção, espera desempenho pífio

BELO HORIZONTE. Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais poderá garantir este ano ao PSDB uma das maiores votações proporcionais de sua história. Com o apoio de dez partidos, o governador tucano Aécio Neves deverá ser reeleito no primeiro turno com mais de 70% das intenções de voto, alimentando entre os mineiros o sonho de ver um representante do estado voltar a comandar o Palácio do Planalto em 2010.

Já os petistas poderão amargar aqui um dos desempenhos mais pífios do país, a despeito de este ser o estado do Sudeste onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mais bem colocado na busca pela reeleição e de o PT ter nas mãos a prefeitura de Belo Horizonte.

PT mineiro acabou respingado por denúncias

Na terra de Marcos Valério, personagem central do escândalo do mensalão, o PT mineiro acabou respingado não apenas pela onda de denúncias de corrupção que atingiram o partido, como também por uma política de alianças imposta por Lula para viabilizar a reeleição e tentar garantir a governabilidade do país nos próximos quatro anos.

O resultado foi uma indigesta aliança com o PMDB local, com o polêmico e histórico adversário Newton Cardoso disputando o Senado com o apoio de Lula. Garantiu mais dois minutos e meio ao candidato do PT ao governo do estado, Nilmário Miranda, no horário eleitoral gratuito, e o dissabor de dividir o palanque com Newtão.

¿ Foi um erro primário de Nilmário para ganhar mais tempo na TV. O PT não vai perder só eleitoralmente, mas politicamente, porque abriu mão de sua coerência. Compromissos partidários não podem prevalecer sobre princípios e valores ¿ observa Aécio.

Para se ter uma idéia, na época em que Newtão governou o estado, o PT tentou pôr em votação um pedido de impeachment contra o governador. No mesmo período, ele foi responsável pela prisão do então deputado Paulo Delgado (PT-MG), durante manifestação do Sindicato da União dos Trabalhadores do Ensino, do qual o hoje secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, era presidente.

¿ O pragmatismo puro e sem princípios não produz estabilidade política. Nós temos de aprender isso ou perderemos o viço ¿ alerta Delgado, que fugiu do último comício de Lula em Belo Horizonte para não ter de ficar ao lado do antigo algoz.

Na opinião do deputado petista que busca a reeleição, a aliança com o PMDB foi ¿inócua e desnecessária¿. Newtão deve perder a eleição para o pefelista Eliseu Resende, apoiado por Aécio, e Nilmário, também.

Mas o petista Nilmário Miranda ainda defende a aliança:

¿ Em Minas havia um clima de candidatura única. O governador trabalhou para que ninguém lançasse candidato. Fez de tudo para isolar o PT e o PCdoB. Mas nós conseguimos trazer o PMDB. Acho que valeu a pena. Conseguimos dobrar o nosso tempo de TV e evitamos o nosso isolamento no estado. Além disso, deverá ajudar o presidente Lula a consolidar uma aliança com os peemedebistas.

Pior do que ter de pedir votos para Newtão, só mesmo assistir à troca de amabilidades entre Lula e Aécio. Clima este que prevaleceu até poucas semanas, quando o governador mineiro decidiu mergulhar na campanha do tucano Geraldo Alckmin e aumentar o tom de suas críticas ao governo federal.

¿ Causou constrangimento esse relacionamento excessivamente cordial entre Aécio e o presidente Lula. O governador é um adversário sagaz que usou isso a seu favor em vários momentos ¿ desabafa o presidente interino do PT, o prefeito Chico Simões.

Um projeto comum poderá unir até 2010 os vitoriosos e os derrotados: a construção de uma candidatura competitiva de Minas Gerais para a próxima eleição presidencial. Se não conseguir legenda no PSDB, Aécio poderá buscar uma nova legenda. O que abriria espaço para uma aproximação com os petistas mineiros, embora a maior parte hoje prefira o nome do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, para assumir esse papel.

¿ É hora de Minas voltar ao poder central. Mas não acho que Aécio é a única alternativa ¿ insiste Nilmário.