Título: MERCADANTE VAI SER INTIMADO A DEPOR
Autor: Adriana Vasconcelos/Ilimar Franco/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 14

Policiais vêem ligação direta entre a operação e a campanha em São Paulo

CUIABÁ. Um dos próximos passos da investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de um grupo de petistas de comprar um dossiê do empresário Luís Antônio Vedoin contra os tucanos será intimar o candidato ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Para os responsáveis pela investigação do caso, com a descoberta de que pelo menos parte do R$1,7 milhão foi levada ao hotel Ibis, onde os petistas esperavam pelos documentos enviados por Vedoin, por Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Mercadante, ficou claro que a operação tinha relação direta com a campanha em São Paulo.

Um dos principais prejudicados pelo suposto dossiê seria o candidato tucano ao governo paulista, José Serra. Por ser senador, Mercadante tem prerrogativa de marcar data, hora e local para ser ouvido pela PF sobre o assunto. O senador já negou publicamente por diversas vezes o seu envolvimento no caso e disse que não tinha conhecimento da operação. Ao pedir demissão da campanha, Hamilton também disse não ter informado Mercadante do assunto.

Delegados acham essencial depoimento de senador

Ainda assim, os delegados federais acham que o depoimento do senador pode ser importante para ajudar a esclarecer o caso, identificado pela PF como uma operação da campanha paulista. Por isso, o motivo da participação do ex-assessor do presidente Lula, Freud Godoy, até ontem, antes do seu depoimento, também ainda não estava muito clara para os investigadores do caso.

Ontem, uma nova polêmica agitou as investigações sobre a compra do dossiê. Foram divulgadas fotos do dinheiro apreendido com os petistas. As imagens não haviam sido passadas para imprensa por uma decisão conjunta dos superintendentes da PF, Geraldo Araújo (São Paulo) e Geraldo Pereira (Mato Grosso). O argumento usado por eles era o de evitar o uso político das imagens e a exploração do trabalho da Polícia Federal. Os responsáveis pelo caso explicaram, entretanto, que o dinheiro está envolvido por cintas da Caixa Econômica Federal porque o dinheiro foi depositado na instituição. As fotos foram feitas depois que as notas foram periciadas.

Ontem, o empresário Luís Antônio Vedoin voltou a ser ouvido por delegados da PF que fazem parte da força tarefa que cuida dos inquéritos contra parlamentares investigados por suspeita de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Entre quinta e sexta-feira, ele já prestou depoimento em 13 dos 84 inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, por causa do foro privilegiado dos parlamentares. Vedoin, segundo seus advogados, confirmou as declarações que já haviam sido dadas à Justiça Federal do Mato Grosso e à CPI dos Sanguessugas. Vedoin e seus sócios deverão continuar prestando depoimentos na semana que vem nos inquéritos que tramitam no STF.