Título: CABRAL ATENDE CRIVELLA SOBRE UNIÃO HOMOSSEXUAL
Autor: Cláudia Lamego e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 06/10/2006, O País, p. 10

Em troca de apoio na eleição, senador retira de tramitação projeto que enfrenta resistência entre os evangélicos

BRASÍLIA e RIO. Os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ) foram ontem no Senado, por volta das 10h, para consolidar a retirada de dois projetos polêmicos e que encontram resistência entre os evangélicos. Cabral retirou uma emenda constitucional, de sua autoria, que permite a união estável entre casais homossexuais. Crivella, o projeto, de sua autoria, que não pune o médico que fizer o aborto em mulher com feto anencefálico (destituído de atividade cerebral).

Crivella condicionou seu apoio a Cabral no segundo turno das eleições ao governo do Rio à retirada da emenda constitucional que permite a união estável entre casais homossexuais. A emenda foi apresentada em setembro de 2003 e desde então tramita no Senado. A proposta ficou parada até janeiro de 2004, quando Jefferson Péres (PDT-AM) desistiu da relatoria. Em março, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) assumiu a relatoria e pediu a realização de audiência pública, o que não se aconteceu.

¿Houve um equívoco na minha redação¿, diz Cabral

O pedido para a retirada foi feito anteontem, mas só se concretizou ontem, quando o senador registrou presença na sessão ¿ como exige o regimento. A emenda seria para alterar o parágrafo terceiro do artigo 226 da Constituição.

O texto do senador diz que ¿para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre casais heterossexuais ou homossexuais como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento quando existente entre o homem e a mulher¿.

A assessoria de Crivella informou que a retirada de seu projeto se deu por problemas técnicos. E que ele sempre defendeu o aborto nestes casos. Ontem, Crivella contou, no Rio, que condicionou seu apoio à retirada do projeto de Cabral.

¿ Ele aceitou a minha ponderação. (A proibição da união civil entre homossexuais) é um princípio fundamental, um dogma muito importante, tanto da igreja católica como da evangélica ¿ disse Crivella.

À tarde, no Rio, Cabral disse não ter retirado o projeto.

¿Vou dar uma revisada no projeto, com uma proposta de fazer uma consulta pública, um plebiscito.

Mas à noite, depois da entrevista de Crivella anunciando o acordo, Cabral admitiu que retirara o projeto e justificou dizendo que ele ainda não tinha avançado no Senado e que o projeto da ex-deputada federal Marta Suplicy, que tramita na Câmara e prevê a parceria civil entre homossexuais e não o casamento, é melhor que o seu.

¿ Houve um equívoco na minha redação. O projeto da Marta fala dos direitos da parceria civil, o meu entrou no caminho do casamento. O projeto não andou porque despertou polêmica. Não quero, com isso, prejudicar uma causa tão justa ¿ disse Cabral.