Título: DINHEIRO PARA DOSSIÊ PODE SER DO JOGO DO BICHO
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 10/10/2006, O País, p. 15

PF e CPI abrem nova frente de investigação, suspeitando da grande quantidade de notas gastas e de baixo valor

CUIABÁ. A Polícia Federal e a CPI dos Sanguessugas investigam a suspeita de que parte do R$1,7 milhão apreendido com integrantes do PT para a compra de um dossiê contra candidatos tucanos pode ter saído do jogo do bicho ou outra atividade irregular. Segundo integrantes da CPI dos Sanguessugas, que ontem se reuniram com o delegado da PF Diógenes Curado Filho, a suspeita baseia-se em dois fatos: há uma grande quantidade de dinheiro em cédulas de pequeno valor, como notas de R$5, R$10 e R$20. Essas cédulas não seriam novas, o que demonstra que já circularam. Além disso, em pelo menos dois maços há uma fita de máquina de calcular com a anotação: ¿10 x R$100,00 = R$1.000,00¿.

Outra informação considerada relevante pelos parlamentares é que o carimbo que aparece nas fitas, e que se pensava tratar-se de agências bancárias, pode, na verdade, remeter a bancas do jogo do bicho. Em um maço de notas há um carimbo com os dizeres ¿Caxias 118¿ e, em outro, ¿Campo Grande 119¿. As duas referências são de locais no Rio de Janeiro.

¿- Há indícios de que parte dos recursos sejam provenientes do jogo do bicho principalmente por causa das fitas, que é um procedimento típico nesse tipo de atividade ¿- disse Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Suspeita partiu de integrantes da CPI dos Sanguessugas

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também afirmou que a PF vê indícios de que parte do dinheiro possa ter como origem o jogo do bicho. Uma fonte da própria Polícia Federal confirmou que na conversa com os deputados o delegado informou ser essa uma das linhas de investigação. O delegado Diógenes, porém, não se manifestou sobre o encontro com os parlamentares. Segundo a PF, foram integrantes da CPI que levaram a suspeita de uso de dinheiro do bicho na compra do dossiê. Como considerou a suspeita pertinente, a PF decidiu abrir essa linha de investigação.

De acordo com o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), há suspeitas de que os recursos possam ter saído de várias fontes:

¿ Pelo volume de notas, pode ter vindo de bingos, jogo do bicho, lotéricas, grandes armazéns. Talvez nunca seja encontrada a origem de parte desse dinheiro, porque certamente são recursos de origem ilícita.

Sampaio: PT tem que explicar ¿dinheiro de origem ilícita¿

Do R$1,7 milhão apreendido com petistas em um quarto de hotel em São Paulo, R$1,1 milhão aproximadamente eram notas de reais. O restante era dólar.

Com base nas informações obtidas com a Polícia Federal, Carlos Sampaio disse acreditar que será infrutífero continuar insistindo para que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identifique sacadores de recursos que excederam R$100 mil:

¿ Não temos de perguntar ao Coaf sobre a origem do dinheiro. Temos de perguntar ao PT, uma vez que o dinheiro é de origem ilícita e não declarada.

A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) afirmou que a PF também informou aos deputados que na quebra de sigilo telefônico de Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, não apareceram, até agora, ligações para casas de câmbio.

Os parlamentares tiveram acesso a fotos da mala apreendida com o dinheiro e, segundo eles, é a mesma que aparece nas filmagens do hotel em poder de Hamilton Lacerda. Em depoimento à PF, Lacerda havia dito que apenas levara um laptop para Gedimar Passos, além de boletos para recebimento de recursos contabilizados para a campanha.

Os parlamentares também solicitaram ao juiz Jefferson Schneider, da 2ª Vara Federal de Cuiabá, que conduz o processo sobre a rede de sanguessugas, autorização para ter acesso a todos os documentos e anexos que estão de posse da Polícia Federal.