Título: É preciso despetizar o governo¿
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 15/10/2006, O País, p. 4

Em meio à discussão sobre corte de gastos e privatizações, um dos coordenadores da campanha de Geraldo Alckmin em São Paulo, o deputado federal eleito José Aníbal (PSDB), ex-presidente nacional do partido, nega que o tucano, se eleito, pretenda repetir na esfera federal o que o partido fez no estado.

O governo do PSDB de São Paulo privatizou setores como rodovias, energia e bancos. Esse exemplo será seguido se Geraldo Alckmin vencer a eleição?

JOSÉ ANÍBAL: No caso do Banespa, todo mundo sabe como Mario Covas ficou indignado com a intervenção e como ele se empenhou para fortalecer a Nossa Caixa. No caso da distribuição de energia, não havia mais nenhum requisito para o Estado manter o setor estatizado. As rodovias são padrão no país, com concessões de 30 anos em que exigimos contrapartidas, como investimento mínimo para que as concessionárias fizessem os reajustes anuais. Alguma coisa precisava ser dada como troco.

Na gestão do presidente Fernando Henrique houve privatizações.

ANÍBAL: Não há nada contemplado quanto à privatização. A idéia de ajuste da máquina passa por desinchar o estado e torná-lo eficiente.

Corte de gastos deve ser tema prioritário?

ANÍBAL: Primeiro é preciso um bom diagnóstico. O inchaço da máquina é muito caro, com representantes dos ministérios em todos os estados. É preciso desaparelhar o Estado. É preciso despetizar o governo.

A batalha entre PT e PSDB está sendo travada em São Paulo. O presidente Lula mobilizou ministros, muitos deles paulistas. Como será o contra-ataque dos tucanos?

ANÍBAL: Temos o maior contingente de prefeitos e esta não é uma campanha só do PSDB, mas do PFL, do PPS, do PDT. As forças políticas que sustentam a campanha são um leque expressivo, com prefeitos e vereadores, além dos 17 deputados federais eleitos pelo partido. Estamos todos em campo.

O partido conseguirá mais votos? Ou manter os que teve no primeiro turno é lucro?

ANÍBAL: Fazemos campanha para melhorar o desempenho. Por parte do PT, os ministros quase não têm expressão nacional. Luiz Marinho (Trabalho) é da área sindical e mesmo assim, no ABC, o PT perdeu a eleição feio há dois anos. Vencemos em São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires, São Caetano e Rio Grande da Serra. No dia 19 faremos um grande ato de apoio ao Geraldo no ABC.

O PT pôs a ex-prefeita Marta Suplicy como coordenadora da campanha em São Paulo. O PSDB vai mostrar mais José Serra (governador eleito) na campanha?

ANÍBAL: Serra está evidente na campanha. Ele acompanhou Geraldo quarta-feira na Cidade Tiradentes (periferia da capital). Agora, o candidato é Alckmin, é ele quem conduz a campanha. Em São Paulo a liderança é o governador eleito; Marta é só uma porta-críticas.

Os petistas dizem que Alckmin, se eleito, vai privatizar bancos e acabar com o Bolsa Família.

ANÍBAL: Marta se presta a qualquer coisa. Ela não tem compromisso com a verdade. Como existe pânico sobre o aparelhamento da máquina pública, com o aumento desenfreado do custo, que passou de R$63 bilhões em 2003 para R$96 bilhões em 2005, estão desesperados.

A que o senhor atribuiu a queda de popularidade de Alckmin nas pesquisas? Ao apoio de Anthony Garotinho?

ANÍBAL: Apoio se recebe. Lula tem apoio de Collor, o que faz pensar como Collor se identifica politicamente com Lula e vice-versa.

Fernando Henrique evita aparecer ao lado de Alckmin na campanha. É medo da comparação entre os dois governos?

ANÍBAL: Nada disso. Não temos dificuldade com a comparação; só queremos que a disputa seja entre o projeto de Lula e o de Alckmin.