Título: DIRETOR DA E-VOTE É PROIBIDO DE DEIXAR O EQUADOR
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 19/10/2006, O Mundo, p. 32

Decisão da Justiça vale até que falhas sejam esclarecidas. Instalações da empresa são vigiadas pela polícia

QUITO. A Justiça equatoriana proibiu, ontem, o diretor da empresa brasileira E-Vote, o argentino Santiago Murray, de deixar o país até que as falhas da companhia, responsável pela contagem rápida dos votos nas eleições realizadas no último domingo, sejam devidamente esclarecidas. O pedido foi feito pelo promotor da província de Pechincha, onde fica Quito, Washington Pesãntez, que visitou na madrugada de ontem as instalações da E-Vote nos arredores da capital. As instalações encontram-se vigiadas pela polícia até que o impasse entre a empresa e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Equador seja resolvido.

Mudança em cédula teria sido motivo do problema

Depois de dias no centro de uma polêmica, em que foi acusada de incompetência e até de fraude por partidos políticos, o que desestabilizou o processo eleitoral do país, a E-Vote justificou ontem o atraso na contagem dos votos e culpou o TSE por uma série de falhas no contrato entre as duas instituições. O presidente da E-Vote, Paulo Martins, negou ter qualquer vínculo econômico ou político com o Equador, e disse ao GLOBO que não descarta processar o TSE pelo não cumprimento de várias cláusulas do contrato. Por conta da situação, mais dois advogados da empresa chegaram ontem a Quito.

- Cansamos de apanhar e de sermos considerados os únicos culpados pela lentidão do processo quando o TSE, desde que nos contratou, em agosto, cometeu uma série de erros - afirmou Paulo Martins, apresentando uma série de documentos, que podem ser, segundo ele, usados judicialmente.

O congelamento do sistema de contagem dos votos da E-Vote, no último domingo, que daria o resultado da votação para presidente em apenas duas horas e para deputados em sete, ocorreu, segundo a E-Vote, por conta de um erro no processamento das cédulas para deputado, que teriam sido modificadas pelo TSE em cima da hora, sem informar a empresa.

- Tínhamos criado em nossos computadores um espelho das cédulas que nos foram entregues três dias antes da votação. No dia, várias estavam diferentes, com nomes e partidos trocados, nosso sistema não as reconheceu, e a rede parou - contou Martins, apontando ainda problemas na rede telefônica Andinatel, contratada pelo TSE, para que os dados fossem transmitidos das zonas eleitorais ao centro de processamento da E-Vote.

Paulo Martins, cuja empresa atua na transmissão de dados das urnas eletrônicas brasileiras há várias eleições, culpou o TSE inteiramente pelo fato, mas disse que o órgão ainda não cancelou oficialmente o contrato com a empresa, cujos funcionários continuam trabalhando. A E-Vote já concluiu 100% da contagem dos votos para presidente e vice, mas foi proibida pelo TSE de divulgá-lo. A contagem dos votos de deputados deve ocorrer até o fim da semana.

Enquanto isso, o Tribunal Superior Eleitoral do Equador promete divulgar hoje os resultados oficiais da contagem manual e oficial dos votos para presidente, ainda sob distintas denúncias de fraude, embora os protestos tenham cessado, e a Organização dos Estados Americanos (OEA) manter sua declaração de que as eleições foram limpas. Até a noite de ontem, quase 90% dos votos já haviam sido apurados. O candidato do Prian, Álvaro Noboa, mantinha-se na frente, com 26,32%, seguido de Rafael Correa, da Aliança País, com 23,15%.