Título: USUÁRIO TERÁ DE ATENTAR PARA SEGURANÇA
Autor:
Fonte: O Globo, 22/10/2006, Economia, p. 42

Dados bancários ficarão sujeitos à ação de `hackers¿, como na internet

A segurança será uma das principais preocupações dos usuários quando o acesso ao banco pelo celular for uma realidade para todos. Afinal, os dados da conta corrente do cliente ficarão expostos a hackers, assim como acontece hoje na internet. Para Eduardo Godinho, gerente técnico de contas Enterprise, da Trend Micro, empresa de segurança de conteúdo, a melhor forma de combater o problema é educar o usuário:

¿ Não é à toa que vários bancos investem em campanhas de prevenção.

Segundo ele, os perigos no celular serão os mesmos que hoje ameaçam quem usa o banco pela internet. O Brasil ainda não registrou nenhum caso de ataque a celular por golpistas.

¿ No Brasil, o tráfego de informações pelo celular ainda é baixo mas, à medida que esse volume crescer, os riscos também aumentam.

Godinho explica que os ladrões vão usar chamarizes para que os usuários de celular baixem, sem saber, programas em seus aparelhos que roubam senhas e capturam dados:

¿ Por exemplo, eles podem enviar uma mensagem oferecendo um protetor de tela com a imagem de um artista famoso. A pessoa pensa que é um presente e, quando se dá conta, já instalou o programa.

Professor descobriu fraude em posto de gasolina

Paulo Bonzanini, diretor de varejo do Banco do Brasil, diz que confia na segurança das transações bancárias pelo celular, cujas informações transitam criptografadas. Mas, como nenhum sistema é infalível, ele admite que o banco se responsabilizará por qualquer problema que ocorra, como acontece na internet.

Se por um lado há riscos, as instituições financeiras apostam que as facilidades do banco pelo celular vão atrair os clientes. Um dos serviços já em operação que se tornou sucesso entre os usuários é o uso do SMS como ferramenta de controle de gastos. O cliente que se cadastra no serviço recebe em seu celular mensagens sempre que usa o cartão de crédito ou débito.

O professor Luis Costa, cliente do Unibanco, conta que, ao abastecer o carro em um posto de gasolina, quase foi vítima de um golpe. O que o salvou foi o serviço de SMS do banco:

¿ Entreguei o cartão de crédito para o pagamento dos R$20 de gasolina. Logo em seguida recebi uma mensagem no celular, informando uma cobrança de R$2. Achei que era um erro mas depois veio outra mensagem com uma cobrança de R$20. Quando o funcionário do posto apareceu com o boleto para que eu assinasse, mostrei as mensagens e questionei a cobrança. Ele admitiu o golpe para roubar R$2 e me devolveu o valor em dinheiro.

Segundo o consultor da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Maurício Ghetler, em países desenvolvidos, o uso do banco pelo celular não é relevante. Ghetler diz que a renda é o grande responsável pelo desenvolvimento de tecnologias que aumentem a capilaridade bancária entre os consumidores de baixa renda. Como o rendimento nos Estados Unidos e na Europa é maior, os bancos podem cobrar tarifas maiores sem problemas. Segundo estudos, uma transferência no Brasil custa entre R$5 e R$10. Lá fora, sai entre US$15 e US$50. Nos Estados Unidos, continua Ghetler, a compensação de um cheque custa 2,5 vezes mais que no Brasil.

¿ Países ricos não precisam de eficiência bancária e os bancos cobram grandes tarifas sem que seus clientes, na maioria velhos correntistas acostumados a bancos ineficientes, reclamem. Em países como a África do Sul, por exemplo, o uso do banco pelo celular é muito mais difundido ¿ diz Ghetler.

China e Índia crescerão nesse mercado, diz Febraban

É o caso do First National Bank da África do Sul. Um dos mais tradicionais do país mais rico do continente africano, a instituição foi fundada em 1838. Há alguns anos, o banco começou a convergir todas as suas transações para o banco via celular. China e Índia também terão grande presença no mercado nos próximos anos, segundo Ghetler. Para ele, o crescimento de um modelo mais barato e eficiente será necessário para atender à população pobre.

¿ A população dessas nações ainda é muito jovem e, por isso, mais aberta a novas tecnologias. A economia desses países também tem tido forte crescimento, o que traz novos clientes para os bancos. (Ana Cecilia Santos)