Título: Arcebispo de SP ocupará 3º posto do Vaticano
Autor: Vera Gonçalves Araújo
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O País, p. 15

Dom Cláudio Hummes, que foi cotado para suceder a João Paulo 2º, foi nomeado prefeito da Congregação do Clero

ROMA. O arcebispo de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, fez História ontem, ao ser nomeado pelo Papa Bento XVI prefeito da poderosa Congregação do Clero, terceiro cargo na hierarquia do Vaticano. O departamento vigia e orienta mais de 400 mil padres católicos espalhados pelo mundo. Ao assumir o cargo, dom Cláudio Hummes terá ainda a espinhosa missão de intervir na questão dos escândalos de abuso sexual cometido por padres contra fiéis e seminaristas.

Com a escolha, um brasileiro volta a ocupar um alto cargo na Cúria Romana. Como prefeito, dom Cláudio fica atrás, na hierarquia da Santa Sé, apenas do Papa Bento XVI e do secretário de Estado do Vaticano. Dom Cláudio sucederá ao cardeal colombiano Dario Castrillón Hoyos, de 77 anos, que pediu demissão por causa da idade.

Hummes, de 72 anos, fora cotado para suceder João Paulo II, em 2005. Depois da morte do pontífice, discursou no Vaticano alertando para os novos desafios da Igreja, como a perda de fiéis. É amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos anos 70 e 80, ficou conhecido pelo trabalho em defesa de sindicalistas e dos trabalhadores. Protegeu Lula durante o regime militar. É visto com homem de diálogo: transita entre progressistas e conservadores com a mesma desenvoltura.

Cargo equivale a ministério

A congregação que dom Cláudio Hummes comandará equivale, no governo da Santa Sé, a um ministério. Como atribuições, estão os cuidados com a formação, a vida e o trabalho de aproximadamente 400 mil padres e religiosos de todo o mundo.

Os vaticanistas frisam que a experiência do arcebispo de São Paulo com a Pastoral Operária brasileira e sua capacidade de negociar com sindicalistas e empresários em condições difíceis podem ter sido decisivos para a escolha. O trabalho que espera o cardeal é delicado: os seminários são as primeiras instituições católicas a serem visadas e perseguidas por governos hostis, e o responsável pela Congregação precisa ter grandes qualidades de mediação para administrar as situações de crise.

O cardeal estava organizando a vinda do papa Bento XVI ao Brasil, em maio. O Papa participará da 5ª Conferência Episcopal Latino-americana, que acontecerá em maio de 2007 em Aparecida do Norte.

O arcebispo de São Paulo mantém fidelidade à tradição e aos dogmas da Igreja. Mas, apesar de não ser de linha progressista, conquistou o respeito de movimentos sindicais. Um dos principais defensores da Pastoral Operária, Hummes participou de assembléias sindicais comandadas por Lula. Nelas, foram dados os primeiros passos para a criação da CUT e do PT.

O cardeal vai enfrentar, ainda, a questão do cisma dos ¿lefebvrianos¿ ¿ grupo de tradicionalistas, seguidores do arcebispo francês Marcel Lefebvre, que romperam com a Igreja Católica. O retorno do grupo aos braços da Igreja romana é considerado prioridade pelo Papa. A expectativa pelo desempenho do novo prefeito é grande. O vaticanista Marco Tosatti, do jornal La Stampa de Turim, observa:

¿ Dom Cláudio Hummes, em abril de 2005, era considerado um dos ¿papabili¿ (candidatos a Papa) . No seu currículo, havia um só defeito: a ausência de cargos importantes na Cúria romana. Agora, o problema está resolvido.

* Especial para O GLOBO, com agências internacionais