Título: DE OLHO NOS ESTADOS-CHAVE
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 03/11/2006, O Mundo, p. 23

Democratas e republicanos disputam indecisos em Virgínia, Missouri, Tennessee e Nova Jersey

Democratas já dizem que seus candidatos estão surfando na onda de entusiasmo que tomou conta dos eleitores. Republicanos despejam milhões de dólares reforçando as campanhas com maiores chances de vitória, inundando redes de TV com anúncios demonizando os adversários. Todos contam vantagens, mas ninguém canta vitória. A poucos dias das mais importantes eleições legislativas da última década, os dois partidos disputam voto a voto oito cruciais cadeiras na Câmara dos Representantes e quatro no Senado, concentrando forças nos quatro estados decisivos para a mudança do atual panorama do poder nos EUA: Virgínia, Missouri, Tennessee e Nova Jersey.

Mais do que a renovação do Congresso, esta eleição é um referendo sobre o governo George W. Bush e, dizem as pesquisas, é sério o risco de derrota para a Casa Branca. Consultas diárias mostram que, se a eleição fosse hoje, democratas conquistariam de 25 a 30 novas cadeiras na Câmara ¿ muito mais do que as 15 necessárias para fazer a maioria. No Senado, elegeriam quatro dos novos seis senadores que necessitam para assumir o controle e, por isso, é nesses quatro estados que a guerra está sendo travada com mais ferocidade para conquistar os cerca de 10% a 15% de eleitores ainda indecisos.

Política externa ameaça candidatos do governo

Os democratas ameaçam tomar o lugar dos republicanos em Virgínia, Missouri e Tennessee, mas em Nova Jersey podem perder uma cadeira que ocupam há anos.

¿ O Partido Republicano está fazendo um grande trabalho para energizar os eleitores democratas ¿ diz, com ironia, John Zogby, diretor do instituto de pesquisa Zogby International.

O fracasso americano no Iraque fez despencar a popularidade do governo e, aparentemente, este é o momento de os eleitores expressarem seu descontentamento. Muito mais do que assuntos locais ou as chamadas questões morais ¿ aborto, casamento gay ou pesquisas com célula-tronco ¿ é a política externa que ameaça os candidatos republicanos, alguns considerados imbatíveis até a eleição passada.

¿ Há muitos anos que não vejo um assunto de política externa, como a guerra, dominar as eleições nos subúrbios ¿ diz G. Terry Madonna, diretor do Keystone Poll, da Pensilvânia

Se os democratas conquistarem maioria no Congresso, levarão junto o poder de infernizar a Casa Branca. A provável líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, prometeu rever toda a história do 11 de Setembro ¿ voltando a discutir por que a Casa Branca não agiu ao saber das intenções de Osama Bin Laden ¿ e abrir investigações sobre os contratos de reconstrução no Iraque. Precavida, anunciou também que mexerá com questões internas, como aumento do salário mínimo, a redução dos juros dos empréstimos para estudantes, a criação de regras mais rígidas para controlar lobistas e a possibilidade de dar ao governo poder de negociar com a indústria farmacêutica a redução de preços de remédios.

¿ Mesmo se o perfil dos candidatas democratas for mais conservador nesta eleição, será uma enorme mudança na vida política americana. As chances de eles terem maioria são mais brilhantes na Câmara ¿ diz Larry Sabato, da Universidade de Virgínia, diretor de um instituto de pesquisa ironicamente chamado de Bola de Cristal.

Há exatos 12 anos os republicanos vêm reinando no Congresso, desde que a chamada Revolução Republicana deu maioria ao partido, que hoje tem 55 cadeiras no Senado (contra 44 dos democratas) e 232 na Câmara (contra 201 da oposição). Na próxima terça-feira, será eleito um terço do Senado, toda a Câmara e já é praticamente certo que alguns caciques políticos serão aposentados. Na Pensilvânia, o terceiro homem mais importante do Senado, Rick Santorum, deverá ser derrotado pelo democrata Bob Casey, que está 15 pontos à sua frente. É lá também que duas cadeiras da Câmara devem trocar de dono e uma terceira está praticamente empatada.

¿ Os republicanos reservaram US$8 milhões para anúncios nessa última semana mas, salvo algum grande acontecimento, vai ser difícil mudar o panorama ¿ diz Terry Madonna.

Em Ohio, estado que garantiu a reeleição de Bush em 2004, os republicanos já jogaram a toalha e pararam de investir em Mike de Wine, já dando como certa a vitória do deputado Sherrod Brown para o Senado.

¿ Um escândalo de corrupção envolvendo Wine agravou o sentimento anti-republicano e Brown soube explorar a perda de empregos industriais no estado ¿ explica Sabato.

Segundo Zogby, as duas outras cadeiras do Senado praticamente já tomadas pelos democratas são em South Dakota e em Montana.

Na Câmara, os institutos de pesquisa já dão como certa a maioria democrata, mas oito cadeiras ainda estão em disputa feroz ¿ em Novo México, Connecticut, Flórida, Minnesota, Nova York, Ohio, Indiana e Pensilvânia.