Título: Aliança estratégica
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O GLOBO, p. 2

Contrariando o espírito hegemônico dos petistas e o eterno namoro de uma ala do partido com o PSDB, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, diz que está na hora de trabalhar pela formação de uma aliança histórica e estratégica com o PMDB. Ele defende a formação de uma coalizão permanente, a exemplo do que fazem no Chile socialistas e democratas-cristãos.

Os dois partidos se uniram nas eleições em vários estados e ganharam juntos os governos da Bahia e do Pará. Patrus não quer apenas que o PMDB e o PT compartilhem o poder no governo Lula. Defende que os dois partidos se aproximem para disputar como aliados as eleições municipais de 2008. O PT chegou a fazer esta proposta ao PMDB em 2004, mas ela não vingou porque a disposição dos petistas de marcar posição prevaleceu.

A despeito de sua heterogeneidade, o ministro considera que o PMDB é um partido popular, enraizado no país, e traz consigo a marca da luta contra a ditadura militar, pela democracia, e tem um projeto nacional de desenvolvimento e sensibilidade social.

¿ Há muita convergência entre os projetos do PT e do PMDB ¿ diz Patrus.

Mesmo dividido, o PMDB deu apoio ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro mandato. Agora, segundo o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), amplos setores estão inclinados a se unir para apoiar o governo Lula, desde que o partido seja chamado a constituir, de fato, um governo de coalizão.

Mas são muitos os obstáculos para que essa aliança se concretize. Quantos cargos no governo Lula serão necessários para acomodar os vários grupos do PMDB? Os petistas continuam tratando os aliados como mal necessário. Entre os petistas ainda há quem diga que a crise ética que se abateu sobre o governo Lula é decorrência da política de alianças e não de erros cometidos pelo próprio PT.

O futuro dessa construção, e as condições de governabilidade do segundo mandato do presidente Lula, estarão em jogo quando forem eleitos os presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro. Se a aliança, que o presidente Lula está propondo ao PMDB, não passar bem por esse teste, se criarão os primeiros espaços para que a oposição vá para cima do governo, como já antecipou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).