Título: CÉLULA-TRONCO NO MISSOURI, ABORTO EM DAKOTA
Autor:
Fonte: O Globo, 09/11/2006, O Mundo, p. 34

Em consultas populares, cinco estados rejeitaram casamento gay e quatro aprovaram o aumento do salário-mínimo

WASHINGTON. Além de escolherem deputados, senadores e governadores, americanos de 37 estados votaram na terça-feira em 205 referendos locais. Conhecidos como ¿iniciativas de voto¿, são propostas de leis estaduais que deveriam ser decididas pelos eleitores. As consultas incluíam apoio ou não do estado a leis contra o aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, fumo em locais públicos, até aumento do salário-mínimo, financiamento de pesquisas com células-tronco, entre outros itens. A votação de maior expressão, devido ao debate que gerou, ocorreu no estado de Dakota do Sul, onde eleitores rejeitaram uma lei que proibia a prática do aborto.

Seis em cada dez eleitores desaprovam guerra no Iraque

O Missouri aprovou uma lei que apóia o financiamento público às pesquisas com células-tronco ¿ apesar da oposição do governo federal de George W. Bush ao tema.

Dos oito estados que realizaram um referendo sobre casamento gay, cinco rejeitaram a união entre pessoas do mesmo sexo (Idaho, Carolina do Sul, Tennessee, Virgínia e Wisconsin). Colorado e Dakota do Sul, segundo as pesquisas, também diriam não ¿ apesar de a contagem dos votos não ter sido totalizada até ontem. No Arizona, a rejeição perdeu por 92% contra 52% dos votos.

O estado do oeste americano, por outro lado, aprovou quatro medidas cujo alvo principal são os imigrantes ilegais, incluindo uma que torna o inglês o idioma oficial do Arizona. Impostos sobre a indústria do fumo, proibição de se fumar em locais públicos e aumento do salário mínimo também foram temas levados a consulta popular.

Enquanto conservadores (tradicionais eleitores dos republicanos) puderam se considerar vitoriosos em relação à questão do casamento gay, a base democrata certamente se satisfez ao ver Arizona, Montana, Missouri, Nevada e Ohio aprovarem um aumento do salário mínimo. No Colorado, o resultado permaneceu indefinido até ontem.

Já no Maine, uma iniciativa para limitar a habilidade de deputados estaduais criarem novos impostos provavelmente foi rejeitada pela população, de acordo com as estimativas. Muitos resultados dos referendos só serão divulgados daqui a alguns dias.

Nenhuma consulta, no entanto, galvanizou mais ativistas políticos quanto a do aborto em Dakota do Sul. Uma lei, aprovada por ampla margem pela Câmara Estadual, em março deste ano, permitia o aborto apenas em caso de a gestante correr risco de vida. Mas, como ela foi rejeitada pela população, os ativistas agora pressionam pela elaboração de uma nova lei, que permita a prática em quase todos os casos ¿ uma batalha que, segundo especialistas, pode parar na Suprema Corte.

Além dos referendos, a opinião geral dos americanos sobre diversos assuntos foi testada, numa série de pesquisas realizada no momento em que os eleitores iam às urnas. O mais surpreendente (três em cada quatro eleitores) é que os americanos apontaram a corrupção e os comportamentos escandalosos dos políticos republicanos no Congresso como a razão principal da opção pelo voto democrata.

Seis em cada 10 eleitores afirmaram desaprovar a guerra no Iraque, e somente um terço dos americanos relatou acreditar que a segurança nacional melhorou.