Título: Lula avisa ao PT que terá de dar espaço ao PMDB
Autor: Chico de Gois, Cristiane Jungblut e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 17/11/2006, O País, p. 13

Para evitar pressão, presidente diz ainda que poderá começar segundo mandato sem concluir mudança no Ministério

BRASÍLIA. Na primeira reunião institucional com o PT após a conquista do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem aos petistas que precisa do PMDB para fazer um governo de coalizão - o que, na prática, reduzirá o espaço do PT no governo. Em reunião de quase três horas no Palácio do Planalto, Lula afirmou que espera ter uma melhor relação com seu partido, sem os problemas e erros do passado.

Em compensação, Lula prometeu contatos mais freqüentes com os dirigentes e as bancadas do PT no Congresso. Prometeu, inclusive, participar da reunião do diretório nacional, dias 25 e 26 deste mês, em São Paulo.

Michel Temer será recebido

Ontem mesmo Lula marcou para quarta-feira um encontro com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), da ala do partido que apoiou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin.

O discurso público do PT é que o partido aceita a decisão de Lula, mas nos bastidores eles resistem à redução do espaço dos petistas no primeiro escalão. ao fim da reunião no Planalto, o presidente em exercício do PT, Marco Aurélio Garcia, disse que o partido terá sua força representada no governo, mas negou pressão por cargos. Garcia chegou a dizer que havia sido dado um "voto de confiança" ao presidente.

Perguntado se o PT havia sido enquadrado pelo presidente diante da necessidade de abrigar o PMDB no governo, Marco Aurélio, irritado, disse que o PMDB não é um problema:

- A comissão política do PT sinalizou concretamente o desejo de que esse seja um governo de coalizão e que o PT esteja representado na proporção de sua força, que é grande. O PMDB, para nós, não é problema. O PMDB é uma grande solução.

Numa tentativa de abrandar as pressões do PT e de aliados, Lula disse que não tem pressa para fechar os nomes do novo Ministério e que, inclusive, pode tomar posse dia 1º de janeiro sem todas as trocas. Lula lembrou que, ao contrário de 2002, há a continuidade do mandato, uma equipe trabalhando e, por isso, não tem que ter pressa.

- Pode ser que haja trocas a qualquer tempo. Não preciso mudar agora, ganhei a eleição com este time que está aí - disse Lula aos petistas, segundo a vice-presidente do PT, deputado Maria do Rosário (RS).

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que vem verbalizando desde a semana passada a insatisfação dos petistas com o tratamento de Lula ao PT durante as negociações para a formação da equipe, adotou o discurso da coalizão:

-- O presidente ponderou que temos de buscar a governabilidade com os aliados de primeira hora, mas também com os demais partidos.

Diante de Lula, os petistas não apresentaram suas reivindicações com tanta ênfase como no início da semana, embora tenham manifestado algumas pretensões. Argumentaram que o PT não pode sair diminuído e que o governo, mesmo sendo de coalizão, deveria fortalecer seu núcleo estratégico formado por PT, PSB, e PCdoB.

Os petistas pediram que seja formado com todos os partidos um conselho político, a se reunir periodicamente para debater a política e as ações de governo. Lula avisou que a interlocução sobre cargos no Executivo será feita pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

Apesar da cobrança para que o PT não perca espaço no governo, Garcia moderou o discurso e disse que a participação do partido não pode ser medida por número de ministérios, ironizando que esse não é um cálculo feito por "metro quadrado".

- O presidente disse que o partido terá o lugar que lhe corresponde, que é de um partido vitorioso. Não foi uma reunião para reivindicar cargos... O espaço que corresponda à sua força política, de um partido que não só elegeu o presidente, mas teve a maior votação da Câmara, que elegeu cinco governadores. Mas o espaço de um partido não é aquele que um arquiteto pode desenhar, que se mede em metros quadrados - disse Garcia, irritado: - O tamanho da participação no governo não se pode medir com fita métrica, com aritmética vulgar. Ele se mede concretamente com a presença das posições políticas essenciais de um partido.

O encontro de Lula com Temer, na quarta-feira, foi acertado entre Tarso Genro e o presidente do PMDB. Temer vinha reclamando do fato de as negociações com o governo não serem institucionais. No primeiro telefonema, Tarso sondou Temer se ele aceitaria encontrar Lula.

- Hoje, o presidente se encontrou com o PT e falou da importância de ter o PMDB unificado no governo de coalizão. O senhor aceita conversar com o presidente? - perguntou Tarso.

- Aceito. Pode marcar a data - respondeu Temer.

COLABORARAM Maria Lima e Ilimar Franco

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