Título: 'VOU CONVERSAR COM TODAS AS FORÇAS POLÍTICAS'
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O País, p. 11

Sem citar FH, presidente diz que encontros com líderes políticos começam já na próxima semana

BARRA DO BUGRES (MT). Sem querer citar especificamente o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não se mostrou disposto ao diálogo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que vai conversar com todas as forças políticas já a partir da próxima semana, quando terá uma rodada de reuniões com vários líderes políticos. Lula também não quis confirmar a formação de um conselho político composto por ex-presidentes. Indagado se chamaria Fernando Henrique para conversar, respondeu:

- Eu pretendo, mas não vou nominar com quem vou conversar. Já disse que vou conversar com todas as forças políticas. Começo, na próxima semana, uma rodada de conversa com muita gente.

"Não vou separar o Brasil entre situação e oposição"

Diante da insistência dos repórteres em saber se essas conversas incluiriam Fernando Henrique, Lula disse que o país não pode mais ficar dividido entre situação e oposição:

- (Vou conversar) Com todo mundo. Não vou separar o Brasil entre situação e oposição, porque a eleição acabou. Agora, temos o governo e temos o Congresso. Temos que separar o que é aquilo que as pessoas têm de diferenças ideológicas, que não vão ser votadas no Congresso, e temos que pensar nos projetos de interesse do Brasil.

No caso da criação do conselho de ex-presidentes da República, o próprio Lula pôs em dúvida sua idéia:

- Não sei. Deixe-me trabalhar que eu vou pensar direitinho no que eu vou fazer.

Apesar do tom ameno em relação à oposição, em discurso na inauguração de uma usina de biodiesel, mais cedo, Lula voltou a criticar o governo de Fernando Henrique e o Plano Real:

- Todo mundo sabe o que foi o dólar um por um (a paridade cambial). Sabe o que foi quando mentiram ao povo, que o real valia mais do que o dólar. Nunca valeu e, quando as coisas de ajustaram, muita gente foi dormir rico e acordou quebrado.

Diante de parlamentares e do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, o presidente pediu apoio para projetos que, segundo ele, irão destravar o crescimento do país.

- Vamos precisar do apoio dos 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados. A gente tem que medir quando é o Brasil ou quando é eleição que está em jogo, quando a pirraça eleitoral está em jogo. Essas coisas incomodam - disse, ao se referir à demora na aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e ao fato de o Fundeb ainda não ter sido aprovado. - Vamos desafiar o Congresso a trabalhar junto com as propostas que são de interesse do Brasil. Na hora de votar as coisas importantes, é preciso parar com a questão partidária.

Presidente reclama de posições do PT em votações

Mas Lula reclamou até de posições do PT em votações.

- Quando o PT fala "não voto porque sou defensor de não-sei-o-quê", o PFL vai e fala: "não voto porque sou contra o governo".

E mandou um recado aos adversários.

- Eu só gostaria de terminar isso aqui dizendo aos nossos adversários: deixem os homens trabalharem porque a coisa vai acontecer neste país.

(Colaborou Luiza Damé)

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