Título: EX-VICE DA ANATEL VAI PRESIDIR A TELEFÔNICA
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 24/11/2006, Economia, p. 34

Antônio Carlos Valente substituirá Fernando Xavier Ferreira, que estava em rota de colisão com o governo

SÃO PAULO. No momento em que trava uma queda-de-braço com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a espanhola Telefônica anunciou ontem a substituição de seu presidente no Brasil. Depois de oito anos no cargo, Fernando Xavier Ferreira deixará a direção do grupo no país e também a da Telecomunicações de São Paulo (Telefônica São Paulo). Ele será substituído por Antônio Carlos Valente, presidente da Telefônica no Peru desde novembro de 2004, e que já foi vice-presidente da própria Anatel.

A companhia não divulgou os motivos para o desligamento de Ferreira. Em comunicado distribuído no fim da tarde, sugere que foi dele a iniciativa de deixar a presidência e que agora ele "pretende dedicar-se a projetos pessoais". O executivo permanecerá nos conselhos de administração da Telefônica São Paulo e da Telefónica Internacional SA (Tisa), que coordena as operações do grupo na América Latina.

"A mudança será efetiva nos próximos 60 dias, período durante o qual será procedida a transição entre os dois executivos", informou o grupo.

Nas últimas semanas, Ferreira transformou-se em pivô de uma disputa que opõe as operadoras de telefonia e as empresas de TV por assinatura. Mesmo sem anuência prévia da Anatel, ele fechou parceria com a Astralsat e levou à frente projeto para oferecer programação de TV paga por satélite (DTH). Coincidência ou não, o serviço começou a ser vendido ontem a clientes em Ribeirão Preto, no interior paulista.

Desgaste ao pôr no ar serviço de TV via satélite

Ferreira alega que, por se tratar apenas de uma "parceria" e não de mudança de controle acionário da Astralsat, não haveria impedimento para a venda do novo produto. Não é esse, porém, o entendimento tanto da Anatel como do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Na terça-feira, Costa anunciou a suspensão de novas autorizações para DTH e a criação de um grupo para analisar possíveis mudanças nas normas do serviço. Foi a primeira resposta à Telefônica. Ontem, depois de participar de evento em São Paulo, o ministro voltou ao ataque.

- Se entrar no ar, vai tirar do ar - reagiu, ao ser informado pelos jornalistas do lançamento do serviço da Telefônica.

O ministro admitiu que existe um "buraco negro" na regulamentação sobre a oferta de TV paga por satélite. Por isso, a necessidade "de discutir mais" sobre o assunto. A legislação em vigor proíbe que empresas como a Telefônica explorem o serviço de TV a cabo nas áreas em que têm concessão para telefonia fixa local, mas não faz menção à tecnologia DTH.

- Temos que discutir mais - insistiu Costa, que seguiu para o aeroporto acompanhado do próprio Ferreira, então ainda à frente da Telefônica.

Anúncio da demissão saiu após conversa com ministro

Outro foco de desgaste de Ferreira com a matriz eram os sucessivos maus resultados da operadora de telefonia móvel Vivo, joint venture entre os espanhóis e a Portugal Telecom. Líder em telefonia celular no Brasil, a empresa - presidida por Roberto Lima Neto - perde, a cada mês, mais participação de mercado e analistas já prevêem que seja ultrapassada, em 2007, pela TIM ou pela Claro.

O polêmico serviço da Telefônica vendido em Ribeirão Preto, em associação com a Astralsat, foi batizado de Você TV. Nos anúncios publicitários, a Telefônica diz que a Você TV pretende oferecer o conjunto de opções mais flexível e econômico do mercado. O preço da assinatura básica é de R$39,90 mensais, válido para um pacote com 18 canais fechados. A programação integral, com 56 canais, custará R$79,90.