Título: ENTRADA DE GRANDES REDES DERRUBA PREÇOS ONLINE
Autor: Bruno Rosa
Fonte: O Globo, 26/11/2006, Economia, p. 37

Comércio na internet já registra deflação, que deve aumentar com concorrência e utilização de cartão de débito

Mais opções a preços menores. Grandes redes varejistas ¿ como Casas Bahia, Renner e Carrefour ¿ entrarão na briga pelas vendas na internet, mercado que deve movimentar este ano cerca de R$4,3 bilhões, com um aumento de 70% em relação ao ano anterior. As companhias vão se juntar a Pernambucanas, Fnac e Marabras, que acabaram de chegar à web. Para 2007, espera-se alta de outros 50% nos negócios e a conquista de 10 milhões de internautas já no primeiro semestre. No ano que vem, será a vez da Avon, que lançará um novo site com foco maior em vendas diretas pela rede.

Com mais concorrentes, os preços continuarão em queda, dizem as consultorias do setor. A menos de um mês do Natal, período responsável por 18% do faturamento online, as empresas intensificam suas promoções. O e-flation, índice calculado pelo Programa de Administração de Varejo (Provar, da Universidade de São Paulo), registra deflação de 12,80% até outubro, contra uma inflação de 3,26% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, do IBGE). Além disso, bancos e empresas de pagamento eletrônico investem no cartão de débito para alavancar as vendas de um mercado já aquecido e que representa 2% dos negócios do comércio.

Com a fusão de Americanas.com e Submarino, empresas que atuam no e-commerce não pouparão investimento. Até o fim do ano, o supermercado Zona Sul passará a parcelar produtos vendidos apenas no canal virtual. A Saraiva, que prepara associação com instituição financeira para enfrentar a concorrência, parcela seus livros em até 12 vezes com frete grátis. O mesmo procedimento adota o Boticário. A Casa & Vídeo vai além: oferece 15% de desconto nos itens vendidos pela internet e espera vendas 65% maiores.

Aumento de confiança impulsiona compras

Segundo Ulysses Reis, coordenador do MBA de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), o crescimento da renda, a oferta de crédito e os preços em baixa estimulam as vendas pela web.

¿ O segmento ganha impulso dos jovens que estão entrando no mercado de trabalho e cresceram plugados à rede. A concorrência é forte na internet com o crescimento dos sites de pesquisa de preços ¿ diz Reis.

O estudante Rafael Pinto, de 21 anos, compra televisores e remédios pela web. Sem tempo para ir ao shopping, o jovem aproveita a facilidade da rede para pesquisar os preços e comprar a qualquer hora.

¿ Entro na internet, pesquiso e compro. É só esperar chegar em casa. Mas, só entro em sites confiáveis ¿ diz Rafael.

Pedro Guasti, diretor geral da consultoria e-bit, credita parte do crescimento do mercado ao fato de o consumidor sentir cada vez mais segurança em comprar pela internet. Este ano, 2 milhões de consumidores passaram a comprar pela rede, totalizando 6,8 milhões de internautas. A rede também atraiu consumidores da classe C.

¿ Em 2001, pessoas com renda até R$1 mil eram responsáveis por 6% das vendas. Hoje, com o crescimento da economia, chega a 8%. Ainda há muito a crescer, já que o país tem 25 milhões de pessoas que usam o internet banking. O número de empresas dobrou nos dois últimos anos, chegando a 10 mil companhias ¿ afirma Guasti.

Luis Paulo Lopes Favero, do Provar, ressalta que os preços tendem a cair com o maior número de empresas no mercado. Especula-se que a Amazon, gigante americana de vendas pela internet, chegará em breve ao país. Gastão Mattos, consultor do Comitê de Varejo Eletrônico da câmara e-net, destaca a flexibilidade permitida pela concorrência. Cerca de 80% das compras são parceladas, revela o executivo. A média é de 10 prestações. No varejo físico, a média de parcelamento é de três vezes.

O Zona Sul, segundo Jaime Xavier, diretor comercial da rede, vai vender algumas marcas de vinhos e tipos de pães artesanais somente na internet, canal que representa 6,5% do faturamento da companhia.

¿ Itens como caixas de vinhos poderão ser parcelados em até três vezes, mas é uma ação exclusiva para a internet. Esperamos bons resultados neste fim de ano ¿ diz Xavier.

O casal de publicitários Denise Diniz e César Braga trocou o supermercado pela internet.

¿ O sistema é prático e combina com o meu dia-a-dia. Posso fazer compras em qualquer lugar do país e pedir para entregar em minha casa, no Leblon. Gasto cerca de R$150 a cada 10 dias. No Natal, só vou comprar pela internet ¿ diz Denise.

Atenta a clientes como Denise, a Blockbuster investe na oferta de produtos pela internet. Marcos Zignal, vice-presidente da empresa, diz que a loja virtual tem oferta 35% superior de DVDs em relação aos espaços físicos. No Natal, o parcelamento chega a 12 vezes, contra dez das lojas normais. Para 2007, a rede espera alta de 60% nos negócios pela internet.

Cartões de débito estimulam vendas neste fim de ano

No Natal, os sites apostam no cartão de débito. Nos Estados Unidos, esse meio de pagamento representa metade dos US$138 bilhões movimentados por ano no comércio via internet. No Brasil, a Mastercard iniciou testes com Unibanco e Banco do Brasil. A Visa, primeira a criar este tipo de cartão, trabalha com o Bradesco e fechará acordo com três bancos nos próximos meses. Para Guillermo Rospigliosi, gerente da Visa Internacional, há 70 milhões de clientes prontos para começar a comprar pela web.

¿ O número de cartão de débito em circulação no país é três vezes maior que o de crédito ¿ afirma Rospigliosi.

As vendas também ganharão impulso quando cartões de fidelidade e vale-presente chegarem à internet em março, nas páginas da Casa & Vídeo, Motorola e Saraiva.

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