Título: CHINA: POLÊMICA POR FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 26/11/2006, O Mundo, p. 45

Críticos vêem seminário sobre o assunto como propaganda comunista, mas há quem enxergue avanços na iniciativa

PEQUIM. Para uns, trata-se de uma demonstração de propaganda política totalmente dissociada da realidade. Para outros, uma tentativa de mostrar à comunidade internacional uma nascente preocupação com os direitos individuais. O que quer que se fale sobre o assunto, o fato é que o governo da China abriu semana passada uma polêmica exposição-seminário sobre o avanço na proteção aos direitos humanos no país sob a acusação de deixar de fora os sem-voz, ou seja, aqueles chineses mais pobres em nome dos quais este tipo de evento é realizado.

Governo acusado de restringir participação

Com o objetivo de ¿promover e salvaguardar o direito do povo à vida e ao desenvolvimento¿, o governo chinês realiza, desde o domingo passado e até amanhã, um seminário e uma exposição sobre os direitos humanos no país para cerca de cem representantes de 20 países.

Numa nação onde os dissidentes, de um modo geral, são não apenas presos, como impedidos de ver seus advogados antes e durante o julgamento, e onde conceitos como liberdade de expressão e de religião são, na prática, inexistentes, o encontro pode parecer uma piada.

Prova disso é que muitos chineses acusam o governo de impedir a participação de representantes legítimos da sociedade civil ¿ como chefes de comitês locais ou parlamentares de assembléias distritais ¿ nas grandes discussões do seminário. Policiais a paisana estariam impedindo a entrada de pessoas que não foram previamente autorizadas a entrar no local para evitar distúrbios.

¿ Eles não vão nos deixar entrar. Vão deixar estrangeiros entrar, mas parece que não vão deixar nenhum chinês entrar ¿ disse um desempregado de sobrenome Jia, que mora em Pequim, à agência de notícias Reuters ontem, após ter sido impedido de entrar na exibição.

O governo da China vem tentando mostrar preocupação no campo dos direitos humanos, mas o fato é que nunca, nos últimos anos, os dissidentes foram tão perseguidos no país. Na segunda-feira, por exemplo, o Departamento de Estado dos EUA divulgou um relatório em que condena a falta de liberdade religiosa no país.

Brasileiro vê avanços em realização de seminário

De fato, o governo da China admite apenas o funcionamento de religiões que se submetam ao controle do Partido Comunista. Mas os chineses negam esta imposição e consideram o relatório americano ¿uma rude intervenção nos assuntos internos de outro país, além de ignorar o que ocorre hoje na China¿.

No entanto, há quem veja avanços, como o secretário de Diretos Humanos do Brasil, Paulo Vannuchi.

¿ Eu seria leviano se quisesse discutir o histórico da relação entre o governo chinês e a proteção aos direitos humanos na China hoje ¿ afirmou Vannuchi. ¿ Mas o fato é que a simples realização de um seminário e de uma exposição como estes em solo chinês já pode ser considerado um indicativo de que algo está acontecendo em relação ao quesito direitos humanos na China.