Título: FINANÇAS ELEITORAIS
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 29/11/2006, O GLOBO, p. 2

Pode estar tudo certo na prestação de contas da campanha do presidente Lula, bem como na de Geraldo Alckmin, que terá seu detalhamento divulgado hoje. Mas com este sistema de financiamento das campanhas há algo de errado, a começar pelo fato de os bancos e as empreiteiras, setores mais diretamente interessados em decisões governamentais, encabeçarem as listas de doadores.

Este é um país em que os gastos eleitorais crescem mesmo quando a lei, tentando baratear as campanhas, proíbe boa parte dos "produtos" eleitorais, como outdoors e showmícios. Os gastos cresceram tanto de 2002 para cá que só deixam duas hipóteses: ou o caixa dois foi muito grande e agora os custos reais apareceram, ou continua existindo, mas as campanhas ficaram inexplicavelmente mais caras.

A prestação de contas pela internet, introduzida pela mudança na lei, foi um arremedo. Os eleitores puderam saber quanto cada candidato arrecadava, mas só agora estão sabendo quem doou.

É provável que alguns dos doadores da campanha de Lula apareçam hoje também na prestação de contas de Alckmin. Alguns, até mesmo na de Cristovam Buarque. A senadora Heloísa Helena disse não ter recebido ajuda de empresas. A "múltipla aposta" da elite econômica explicita que ela não apóia um candidato por acreditar em seu programa ou ter identidade com seu partido. Ela busca apenas ser credora de quem amanhã estará no governo. Sobe ou dobra a aposta quando o cavalo vencedor vai se definindo.

O tesoureiro de Lula, José de Filippi Jr., informou ontem que cerca de R$20 milhões foram doados depois que ele foi reeleito. A lei não proíbe, mas é esquisito. Já no PSDB se diz que boa parte do déficit de R$19 milhões da campanha de Alckmin tem origem nas promessas feitas quando ele foi para o segundo turno. Mas logo sua candidatura começou a murchar e a de Lula a empinar, e muitos roeram a corda. Sabe-se também, no PT, que um grande empresário prometeu boa doação a Lula mas, quando houve o segundo turno, começou a fugir do cobrador. Lula disparou nas pesquisas e o empresário reapareceu, louco para doar. Os petistas o esnobaram por uns dias, mas depois receberam.

Há muitos argumentos contra o financiamento público de campanha, como o de que as doações privadas continuariam por baixo da mesa, e a "reciprocidade" também. O que esses custos deixam claro é que a verba pública estimada pelo projeto em tramitação - R$7 por voto, o que renderia ao fundo financiador em torno de R$800 milhões - não daria para o começo da brincadeira. O PT, por exemplo, ficaria com 17% disso (fração de cadeiras que tem na Câmara). Algo em torno de R$136 milhões. Mas para financiar a campanha presidencial, a dos governadores, senadores e deputados. Os números falam que não há chance de os políticos aprovarem essa modalidade, ainda que o atual sistema acabe onerando até mais os cofres públicos, através de "reciprocidades" diversas, que podem ser um pequeno favor ou um escandaloso favorecimento.