Título: Cresce número de idosas que sustentam família
Autor: Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 02/12/2006, O País, p. 3

Influência de avós na gestão do lar aumenta; expectativa de vida da mulher é 7,6 anos maior que a do homem

RIO e FORTALEZA. Idosas, ativas e provedoras, as mulheres assumiram, em uma década, posição de destaque na garantia da subsistência das famílias brasileiras. O percentual de idosos responsáveis por netos, bisnetos e filhos no país aumentou 47,5% de 1991 a 2000, segundo cruzamento de dados feito pelo IBGE, com base nos censos demográficos. A participação de mulheres se destacou: de 322,6 mil em 1991 para 562,9 mil em 2000 (um crescimento de 74,5%). Numericamente pequeno na comparação com os demais, o conjunto de mulheres com cônjuge que cuidam de netos e bisnetos cresceu 557,9% no período (de 2,9 mil para 19,3 mil).

¿ Com o processo de envelhecimento da população, o que vai ocorrer no futuro é a presença de distintas gerações convivendo em uma mesma família ¿ afirma Juarez de Castro Oliveira.

Para o instituto, o aumento atesta a longevidade feminina e indica as novas percepções culturais em relação ao papel da mulher na sociedade. A pesquisa não identifica a fonte de renda das idosas. Em 2005, a expectativa de vida das mulheres era de 75,8 anos, enquanto a dos homens era de 68,2. Uma diferença de 7,6 anos.

Número de netos criados por avós aumenta

Na década analisada, variou também o número de netos e bisnetos em famílias geridas por avós e bisavós. Foi de 1,7 milhão ¿ 55,1% a mais do que o número apurado em 1991, que era de 1,1 milhão. Na avaliação dos técnicos do IBGE, o número revela uma ¿desagregação¿ familiar. Por morte prematura, migração temporária ou dissolução da família, os avós acabaram responsáveis pela gestão da casa. Em 2000, 466 mil avós/bisavós cuidavam diretamente de seus netos e bisnetos.

¿ Acaba sobrando para o idoso. E como as mulheres são maiores nessa faixa etária e a educação dos filhos normalmente cabe à mulher são elas que cuidam ¿ disse o pesquisador do IBGE.

Maria de Nazaré, aos 66 anos, é exemplo concreto da estatística que o IBGE divulgou: separada do marido há cinco anos, vive com os dois filhos mais jovens e ainda ajuda um deles que não trabalha. As duas filhas já são casadas. Uma, mulher de açougueiro, vive em melhores condições financeiras. Anteontem, Maria chegou a dar R$100 para a outra filha cujo marido é pedreiro, mas não tem trabalho fixo.

¿ Eu ajudo porque é minha filha e tenho pena ¿ disse Maria de Nazaré.

Ela não pode se dar o luxo de parar de trabalhar. Ganha um salário mínimo com a aposentadoria por idade, insuficiente para sustentar a família. Morando numa casa de dois vãos numa vila do Montese, bairro de classe média em Fortaleza, Maria de Nazaré sai todos os dias pela manhã para vender cafezinho, pães, tapiocas e bolos na região. Os melhores fregueses são os taxistas de um ponto a poucos metros de sua casa.

Com a venda dos lanches, Maria de Nazaré ganha no máximo R$10 por dia. Ela tem um sonho: comprar uma geladeira nova. Um dos filhos que moram com ela já lhe deu um neto. Boa parte do que ganha serve de pensão alimentícia para o garoto, e por isso não ajuda a mãe com nenhum tostão para o pagamento das despesas. Ainda assim, não gosta que ela saia para fazer bicos por causa das dores na coluna. O maior desejo de Maria de Nazaré é reformar a casa. O teto da cozinha tem brechas nas telhas.

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