Título: Esperança de vida no país sobe
Autor: Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 02/12/2006, O País, p. 3

Mas boa notícia pode significar uma ameaça para a Previdência, se não houver reforma

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que não vê necessidade de uma nova reforma na Previdência Social, a boa notícia sobre o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, divulgada ontem pelo IBGE na pesquisa Tábuas Completas de Mortalidade, tende a ter, em longo prazo, o efeito de uma bomba-relógio sobre as contas do setor. As projeções feitas pelo IBGE para as próximas décadas indicam que o número de pessoas com 65 anos ou mais aumentará, até 2050, de 11,2 milhões (número de 2005) para 48,9 mihões. Em relação a 2004, a expectativa de vida do brasileiro aumentou dois meses e 12 dias no ano passado, passando de 71,6 anos para 71,9 anos. De 1991 a 2000, segundo o IBGE, o número de idosos cresceu 45% no país, num ritmo três vezes maior que o do crescimento da população, que aumentou 15,7%.

A pesquisa do IBGE é utilizada pelo Ministério da Previdência para o chamado fator previdenciário, fórmula de cálculo de benefícios criada para tentar estancar o rombo do INSS. A idade e a expectativa de vida no momento da aposentadoria influenciam no cálculo. Pelas contas do governo, a nova tábua divulgada ontem, com uma expectativa de vida mais alta, vai exigir mais tempo de contribuição ao INSS até que o trabalhador conquiste o direito à aposentadoria.

¿Uma escolha entre os pais e os filhos¿

De acordo com estudo do economista Fabio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), desde 1988 o impacto da Previdência na economia do país duplicou. Em seu livro ¿Reforma da Previdência ¿ O encontro marcado¿, ele afirma que, no futuro, será ¿uma escolha entre nossos pais ou nossos filhos¿.

¿ Mesmo a trancos e barrancos (sem o devido acesso da população a serviços públicos essenciais), o país, comparado com 2000, está aumentando sua longevidade. Combinado o aumento da expectativa de vida com a queda de fecundidade, estamos em pleno processo de envelhecimento populacional ¿ diz o gerente do Departamento de Dinâmica Demográfica do IBGE, Juarez de Castro Oliveira.

No período de 2000 a 2005, a expectativa de vida no Brasil aumentou 1,49 ano (o equivalente a 1 ano e cinco meses). O aumento de 2004 para o ano passado foi metade do registrado em 2004 ¿ de quatro meses e 24 dias. De 1980 a 2005, o ganho foi de 9,38 anos, segundo o IBGE.

De um estado para outro, oito anos a mais de vida

A desigualdade entre as regiões brasileiras fica clara nos números sobre a expectativa de vida nas unidades da federação: enquanto no Distrito Federal, primeira do ranking, a expectativa foi de 74,9 anos, em Alagoas, última colocada, o índice foi de 66 anos.

Dezesseis estados estão com esperança de vida abaixo da média nacional. São Paulo ocupa a quinta posição no ranking, com uma expectativa média de 73,7 anos. O Estado do Rio aparece em 11º (72,4 anos). A expectativa de vida apareceu em alta na Região Sul ¿ em Santa Catarina a média é de 74,8 anos. Já a Região Nordeste aparece em último. No Maranhão, por exemplo, a expectativa média de vida é de 66,8 anos.

Apesar do aumento da longevidade de sua população, o Brasil ainda está longe de atingir posição favorável no ranking internacional: é o 80º colocado, empatado com o Líbano. O Brasil fica atrás das nações desenvolvidas e de países como Costa Rica (com média de 78,1 anos), Cuba (com 77,2), Porto Rico (com 76), Uruguai (com 75,3) e Colômbia (com 72,2).

O japonês é o povo com maior esperança de vida ao nascer: 81,9 anos. Em segundo lugar está a China, com 81,5 anos. A média mundial é de 64,7. Os piores índices estão nos países africanos, e a expectativa de vida mais baixa é verificada na Suazilândia: 32,9.

¿ Inegavelmente, tivemos um ganho sobre a mortalidade. A expectativa de vida aumentou e a mortalidade diminuiu. Mas as comparações mostram que a desigualdade se manteve. A posição do Brasil em relação ao resto do mundo não se alterou ¿ afirma Juarez Oliveira.

A pesquisa do IBGE mostra também que uma pessoa que, em 2005, superou os riscos de morte até os 70 anos de idade poderá, em média, alcançar uma idade próxima de 85 anos. Dos 12 aos 35 anos, de acordo com o pesquisador, os homens estão mais sujeitos aos riscos de morte violenta, por arma de fogo ou por acidente.