Título: Outra crise entre os tucanos
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 13/12/2006, O Globo, p. 2

Houve ontem uma forte, porém silenciosa reação da bancada do PSDB a declarações que o presidente do partido, senador Tasso Jereissati, fez anteontem em entrevista ao programa ¿Roda viva¿ (TV Cultura), admitindo que pode novamente vir a apoiar uma candidatura de Ciro Gomes a presidente, em nome de seus compromissos com o Estado do Ceará, desde que ele não esteja associado ¿a este esquema do Lula¿.

Os tucanos reclamaram, viram nisso falta de visão nacional e descompromisso com o partido, mas nenhum deles se dispôs a criticar abertamente o presidente do partido. Na entrevista, o assunto veio à tona quando Tasso, que já falara muito contra a falta de identidade dos partidos brasileiros, a confusão programática que leva o eleitor a não saber quem é quem, foi lembrado de que este ano ele não apoiou o candidato do PSDB à reeleição, governador Lúcio Alcântara, e que em 2002 desembarcou da campanha do tucano José Serra para apoiar a de Ciro Gomes, então do PPS. Ele explicou que este ano deixou de apoiar Lúcio porque este mesmo dera a entender que sua participação na campanha era dispensável. Quanto a 2002, disse que seu compromisso político fundamental é com o Estado do Ceará, onde nasceu e fez vida pública, projetando-se nacionalmente a partir das transformações que propiciou ao estado depois de governá-lo.

¿Eu não poderia deixar de apoiar um candidato do Ceará que naquele momento tinha chances tão grandes de ganhar. O povo do Ceará não entenderia¿, explicou Tasso.

Perguntado se poderia novamente fazer essa opção, caso Ciro venha a ser candidato, afirmou.

¿ Vai depender das circunstâncias. Se ele for candidato neste esquema aí do Lula, não tem chance, e eu já disse isso ao Ciro.

Foi a passagem que irritou os tucanos. Para eles, Tasso deixou claro que seu compromisso partidário acaba quando começam as conveniências da política do Ceará.

Esse é o segundo conflito forte dentro do PSDB em poucos dias. Na semana passada, Tasso e o líder Jutahy Júnior tiveram áspera discussão porque o senador cobrou do líder seu alinhamento com o governo petista de Jaques Wagner na Bahia, contra as forças do carlismo.

Em sua entrevista, Tasso reclamou muito da indiferenciação atual entre os partidos, que leva o eleitor a não saber quem é quem durante as campanhas. Em busca da diferenciação, de um programa mais nítido e de compromissos mais claros é que o PSDB fará, em 2007, sua jornada de reestruturação. Citou ele como exemplo dessa ¿bagunça¿ a tática de Lula e do PT, na campanha, de carimbar Geraldo Alckmin como privatista, embora o governo petista tenha privatizado alguns bancos estaduais e tenha a intenção de realizar PPPs, as parcerias público-privadas, para obras de infra-estrutura, ¿a maior das privatizações¿. O crescimento de Lula e o encolhimento de Alckmin no segundo turno, para Tasso, decorreu em parte do receio da classe média de que fossem privatizados o Banco do Brasil e a Petrobras, por exemplo.

¿ A bagunça é geral no Brasil de hoje. Vai da bagunça programática dos partidos à bagunça que o governo faz na administração federal ¿ disse, emendando com duras críticas ao desempenho do governo Lula nos planos ético e gerencial. Criticou ainda a condescendência de Lula para com Evo Morales, da Bolívia, dizendo que agora ¿a conta está sendo empurrada para os cearenses¿. A Petrobras está querendo rever o preço do fornecimento de gás para uma siderúrgica privada a ser construída no Ceará, invocando o reajuste do preço do gás boliviano.

Elogiando a atuação de Alckmin como candidato, Tasso admitiu que Lula estava destinado a ganhar de qualquer candidato, por conta de sua simbologia, dos programas sociais e da sensação de conforto econômico sentida pela maioria dos eleitores.