Título: Telemar fica com controladores
Autor: Santos, Ana Cecília e Delmas, Maria Fernanda
Fonte: O Globo, 16/12/2006, Economia, p. 35

Acionistas rejeitam pulverização e companhia cogita comprar empresas para crescer

Aroposta de reestruturação societária da Telemar ¿ que pulverizaria o capital da empresa no mercado, eliminando o bloco de controladores e criando uma única empresa no grupo, a Oi Participações ¿ foi rejeitada pelos acionistas detentores de ações preferenciais (PN), sobretudo por fundos estrangeiros. Ao anunciar o resultado da terceira assembléia convocada para deliberar sobre o assunto, o presidente da companhia, Luiz Eduardo Falco, disse que estava frustrado e deixou claro que não haverá uma nova proposta. Agora, a Telemar cogita usar o caixa que serviria para distribuir dividendos após a pulverização para comprar empresas. Falco chegou a admitir que a companhia estudará entrar na disputa pela TIM. A empresa também não desistiu da possibilidade de comprar a Brasil Telecom (BrT) e a Telemig Celular.

¿ A partir de hoje não temos mais compromisso de pagar aos acionistas R$3 bilhões em dividendos (por ano). Passamos a ter a opção de comprar ativos em dinheiro ¿ informou Falco.

O executivo reforçou que a empresa continua firme na briga para se consolidar como a terceira plataforma de telecomunicações do país, ao lado do grupo mexicano de Carlos Slim (que inclui Telmex e América Móvil) e dos espanhóis da Telefônica:

¿ Para tentar fazer a plataforma brasileira, temos que considerar as oportunidades existentes no mercado, inclusive a TIM.

Ações caíram mais de 20% na Bovespa

Antes das três assembléias em que a Telemar tentou aprovar a reestruturação ¿ nas duas primeiras não houve quórum suficiente ¿, Falco afirmou ao GLOBO que a pulverização poderia abrir caminho para a compra da BrT. Hoje, o negócio não é possível, porque duas concessionárias de telefonia fixa não podem ter o mesmo controlador. Se a Telemar pulverizasse seu capital e a BrT fizesse o mesmo, deixaria de haver a figura dos controladores. Falco acreditava que um decreto presidencial poderia liberar a união das duas.

Uma fonte ligada aos acionistas da Telemar entende que a rejeição à pulverização não invalida os planos relativos à BrT. Segundo ele, com ou sem capitais pulverizados, basta que haja um ¿desejo político¿ de transformar a Telemar nessa plataforma nacional e autorizar a transação ¿ sobretudo em um mercado que ficará mais concentrado após a venda da TIM. Para essa fonte, os acionistas acreditam que vale a pena ir em frente e ¿fazer as continhas¿ para juntar a Telemar, que tem geração líquida de caixa de R$6,5 bilhões anuais, e a BrT, com R$3,5 bilhões.

A fonte diz que eventuais aquisições vão depender das oportunidades e ressalta que ¿a Telemar não vai sair correndo para comprar a TIM ou para ver quem paga mais¿. Para essa fonte, os mexicanos ainda são os ¿campeões¿ nessa história, pois sabem como comprar barato.

A proposta de pulverização, que levaria a Telemar para o Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), foi rejeitada por donos de 36,94% de ações preferenciais (não ligadas ao controle), contra 28,94% a favor, na assembléia realizada de manhã na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Apesar de nesta última etapa o quórum exigido ter sido reduzido de 50% para apenas 25% dos preferencialistas, foi mais que o dobro das duas últimas reuniões: 65,91% de donos de PNs e 67,6% de detentores de ONs. Segundo analistas, a rejeição ocorreu porque a relação de troca ¿ detentores de papéis ordinários receberiam 2,6 vezes mais ações da nova companhia do que os preferencialistas ¿ era injusta.

¿ A operação era boa, mas a relação de troca, não. Se a operação fosse aprovada, abriria um precedente perigoso, já que outras empresas poderiam seguir esse modelo de relação desigual de troca de ações ¿ disse Leonardo Messer, diretor de Renda Fixa da Meta Asset Management.

Ontem, as ações ordinárias da Telemar, que se beneficiariam da operação, despencaram 21,52% ¿ a segunda maior queda da Bovespa ¿, e as preferenciais recuaram 5,37%. Os dois papéis movimentaram R$611,3 milhões, quase 20% do total negociado, de R$3,33 bilhões. Na opinião de analistas, a queda das ações ordinárias já era esperada, pois os papéis haviam se valorizado bastante nos últimos meses.

¿ Esta semana, as ações ON já acumulavam alta da cerca de 20% no ano. Agora o mercado está ajustando essa valorização. As ações ON devem continuar caindo, mas de forma mais lenta ¿ analisa Eduardo Roche, gerente de Análise de Modal Asset.

Unificação sob a marca Oi é mantida

Para Roche, os preferencialistas terão dificuldades de recuperar as perdas. Segundo ele, no ano, as ações PN acumulam queda de cerca de 20%, enquanto as ONs sobem 11%.

Falco não quis detalhar como foi o voto dos acionistas de maior peso, mas admitiu que a decisão ficou nas mãos dos estrangeiros.

¿ Não vamos declarar quem votou contra, quem votou a favor. Mas, de uma maneira geral, os acionistas estrangeiros tinham um peso maior.

Segundo o executivo, donos de ações ordinárias e preferenciais saíram perdendo:

¿ Hoje (ontem) as ações estão caindo. Hoje os dois perdem porque a companhia perde valor com a não aprovação. Por mais que houvesse uma diluição (da participação dos preferencialistas na nova empresa) na entrada, a companhia ganharia valor e essa perda seria acertada.

Agora, todas as cinco ações do grupo negociadas na Bovespa permenecem. Mas a Telemar garante que os planos de unificar seus serviços sob a marca Oi se mantêm.

Segundo Falco, a não aprovação da operação limita a empresa:

¿ Continuamos com o mesmo propósito, mas também com as mesmas limitações que sempre tivemos de geração de caixa e do nível de endividamento que a companhia pode ter. A reestruturação criaria uma moeda de troca de financiamento, que seria a emissão de ações que pode ser feita quando não há controlador.

Já a fonte ligada aos acionistas diz que a pulverização era muito ligada ao destino dos sócios, não da companhia, que continua saudável.

COLABOROU Patricia Eloy